As 10 piores canções dos Beatles

Sr. Editor, tenho certeza que você não terá a hombridade, muito menos, coragem suficiente para publicar o meu texto. Mesmo assim, para que a verdade prevaleça e, finalmente, venha à tona — como as titicas e os presuntos atirados nos rios — eu faço questão de enviá-lo. Se quiser publicar, publique. Se não quiser, publique mesmo assim, pois os seus leitores não merecem ser ludibriados por mais tempo.

Antes de mais nada, para início de conversa, o meu nome é Afrânio W. Winchester. Em dezembro de 1980, em meio a tanta balbúrdia, fui eu uma das únicas vozes que se levantaram em prol do justiceiro de Nova York, aquele quem sacou do alforje de caçador o livro “O Apanhador no Campo de Centeio” e fuzilou o beatle de óculos na portaria do prédio. E digo mais: suponho que ainda exista mais munição e palavras para detonar os outros dois que ainda restam vivos, visto que um tumor cancerígeno — parceiro e camarada — tratou de roer a pleura do beatle místico, aquele porra-louca que tocava o sitar pior que um maneta vítima da talidomida.

Advirto que o meu humor é um humor corrosivo piorado (já deu pra notar?), se comparado ao do beatle arrogante de óculos e ao de Holden Caulfield, o personagem escroto e marrento de J. D. Salinger. Acontece que essa tal Revista Bula publicou, recentemente, uma funesta pesquisa de opinião (com que autoridade vocês foram capazes disso eu não faço a menor ideia) entre os seus leitores e seguidores nas redes sociais (melhor para eles seria que seguissem o próprio capeta, ao invés desse lixo virtual tendencioso que vocês se tornaram), a fim de ranquear as supostas “10 melhores canções dos Beatles”.

Considerando que esta banda de almofadinhas extinguiu-se há mais de 40, por conta de intrigas, cirandas de vaidade, drogas, grana e mulher (todo mundo sabe que aquela japonesa enxerida tinha culpa no cartório), tal enquete me parece, não somente antiquada, fora de ordem, mas, de extremo mau gosto e suspeitíssima, uma vez que os critérios e a metodologia científica aplicada não ficaram suficientemente claros.

Portanto, mesmo sabendo que esta crônica irá para a lixeira de um computador como se fosse um vírus desprezível qualquer, ou que será fumada com desprezo e escárnio por vossa senhoria, tratei eu mesmo de tabular, com extrema facilidade e sem culpa, “As 10 Piores Canções dos Beatles”. E há muito mais de onde elas vieram, posso lhe assegurar.

Não fiz enquete patavina nenhuma, até porque não encontrei ninguém que, assim como eu, entendesse de música e humor negro o suficiente para saber que os pentelhos de Liverpool foram e continuam sendo uma das maiores fraudes do mercado fonográfico na história da música, desde que Deus sentou em seu trono e assobiou ao sétimo dia, exausto de tanto construir tudo o que existe no universo.

Se não fosse pela Tia Mimi, eles seriam nada. Se não fosse pelo produtor George Martin, eles seriam nada. Se não fosse pelo empresário-viado Brian Epstein, eles seriam nada. Se não fosse pelo contexto sociocultural da época, altamente favorável à música de protesto e aos falsos ídolos, eles seriam nada.

Pouco me importa se os seus leitores de cabresto escreverão mensagens de desagravo aos impostores de Liverpool, a vossa senhoria, ao infeliz cronista que redigiu aquela blasfêmia (o sujeito sequer é jornalista), ao beatle narigudo com cara engraçada e ao beatle velho gentil que ainda permanecem vivos e atuantes. Aliás, eu até concordo que ambos sejam de uma vivacidade incrível, ao conseguirem enganar a tantos durante tanto tempo. Não a mim. Não caio mais nessa. Pra mim já deu. Adeus.

Revolution 9 (álbum The Beatles, 1968)



De tantas insanidades no “Álbum Branco”, esta é a pior de todas. O beatle de óculos (Rest in Peace, rá rá rá…) devia estar muito drogado para compor toda aquela gritaria a qual muitos chamam “música”. Aquilo não era música, senhores. Aquilo foi um surto esquizofrênico. Na melhor das hipóteses, um efeito colateral do uso abusivo de heroína.


Wild Honey Pie (álbum The Beatles, 1968)


Sem comentários. Não se pode levar a sério alguém que se vanglorie em cantar “torta de mel, eu te amo”.


Savoy Truffle (álbum The Beatles, 1968)


Antes o beatle místico-porra-louca se restringisse a solar a guitarrinha, ao invés de se meter a compor canções. Acredite quem puder: o sujeito escreveu aquilo em tributo ao amigo Eric Clapton (que é outro que se julga o bam-bam-bam da guitarra) que era viciado em doces e chocolates, ao ponto de quase arruinar toda a arcada dentária. Vai ser “viajandão” assim lá na Índia.


The Continuing Story of Bungalow Bill (álbum The Beatles, 1968)


O “Álbum Branco” é considerado pela crítica especializada (os caras são especialistas em puxar o saco de quem paga mais jabá) uma obra profundamente experimental. Pra mim é piada: os caras experimentaram gravar um punhado de sandices e o mercado caiu que nem patinho. Entendam essa asneira: “Bungalow Bill” é uma famigerada mistura de bangalô (isso mesmo: aquelas casinhas de veraneio) com Buffalo Bill. No fundo, no fundo, me dá uma vontade danada de descarregar o revólver n’alguém.


Piggies (álbum The Beatles, 1968)


Se chafurdarem na lavagem musical dos garotos perdidos de Liverpool, vão encontrar um monte de “pérolas” como esta. Só mesmo um hippie tresloucado como Charles Manson entendeu o que o beatle incensado queria dizer com esta porcaria. E ele entendeu tudo errado, ao assassinar oito pessoas em 1971 e escrever com o sangue delas nas paredes a palavra “Pig”. Não acreditam? Está tudo ali nos autos dos processos.


Polythene Pam (álbum Abbey Road, 1969)


Eu juro que não é brincadeira. O beatle petulante de óculos teve uma inspiração incrível ao se lembrar de uma remota fã, quando eles ainda infernizavam o Cavern Club, a qual tinha o péssimo hábito de comer pedacinhos de plástico (polietileno) enquanto ouvia os caras sacudirem os esqueletos vestidos com aqueles terninhos ridículos. Pobre mulher. Eu, no lugar dela, teria comido os moranguinhos de Strawberry Field com estricnina e acabado logo com aquele sofrimento.


Little Child (álbum With the Beatles, 1963)


De bobos os fabulosos farsantes só tinham o rebolado e as franjas. O beatle anarquista de óculos e o beatle bom mocinho (eles formavam uma dupla mais danosa e virulenta que Butch Cassidy e Sundance Kid) compuseram, em série, um punhado de canções ingênuas com três acordes que caíram no gosto dos adolescentes alienados nos primórdios dos anos de 1960. Depois o povo ainda reclama dos nossos sertanejos universitários. Viva o Brasil! Viva o Maranhão, minha terra querida!


Thank you Girl (single de 1963)


Não sou eu quem está dizendo, mas, os próprios compositores. O beatle meigo e gentil disse em entrevista, anos mais tarde, que esta era “uma canção sem valor”. O beatle arrogante de óculos a menosprezou dizendo que “era só mais uma canção boba feita nas coxas”. Quem sou eu, portanto, para questionar os reis do ié-ié-ié.


I Wanna be Your Man (álbum With the Beatles, 1968)


Não bastasse a música ser ruim pra dedéu, foi entregue para o beatle baterista cantar e, todos sabem que o beatle baterista não sabia e nem aprendeu a cantar. Deu no que deu. Ludibriados pelos seus conterrâneos marotos, os Stones regravaram este cancro e se lascaram.


I Don’t Want to Spoil the Party (álbum Beatles for Sale, 1964)


Em meio a tamanha frivolidade, esta canção até que se salvaria. Só a coloquei aqui para frisar que “I do Want to Spoil the Party”. Se vocês não sabem ler em inglês e não compreenderam nada do que eu quis dizer até aqui, joguem esta frase no Google tradutor e vão se lascar.