“Ricky Stanicky” parte de um ponto curioso do cinema comercial contemporâneo: tenta construir uma comédia ancorada em um personagem imaginário, mas rapidamente revela que seu motor narrativo depende menos da farsa e mais da presença concreta de John Cena, que atua como eixo de energia num enredo que se arrasta mais do que deveria. O filme tem duração superior ao necessário, e isso faz com que cada intervalo sem graça ganhe um peso que não teria caso o ritmo fosse mais contido. Ainda assim, há algo de funcional na maneira como Cena sustenta a estrutura, preenchendo silêncios e evitando que a narrativa se desintegre.
A participação de Zac Efron, Jermaine Fowler e Andrew Santino cumpre seu papel inicial de movimentar a história, embora os três precisem superar a antipatia que o próprio roteiro lhes atribui. Eles servem como agentes de uma trama que exige suspensão de lógica para que o artifício sobreviva, mas não entregam consistência emocional suficiente para justificar o esforço. Cena, por outro lado, trabalha dentro de uma lógica objetiva: entrega o que o filme precisa porque reconhece que sua função ali é pragmática. Sua autodepreciação, usada em benefício da comicidade física, é o ponto mais sólido que o longa possui.
Peter Farrelly mantém um gosto evidente pelo grotesco que marcou sua carreira anterior. O choque inicial, calculado para provocar reação imediata, prepara o terreno para uma narrativa dependente de exageros e de um humor que flerta com a repetição. O diretor não parece interessado em renovar sua abordagem; prefere confiar em uma espécie de inércia cômica que transfere para Cena a responsabilidade de manter a atenção do público. Quando o roteiro tenta ampliar seus temas, acabamos diante de um moralismo leve que surge apenas para dar forma ao terceiro ato, sem grande elaboração.
A coerência interna do filme é frágil, sobretudo porque ele exige que o espectador aceite décadas de improvisos mirabolantes sem calcular as consequências práticas desses atos. O texto reconhece sua própria artificialidade e ainda assim insiste em prolongar situações que já nasceram esticadas demais. Há momentos bem escritos, especialmente nas cenas concebidas como esquetes independentes, mas elas funcionam quase isoladamente, como se fossem restos de um projeto maior que nunca se consolidou.
Entre as atuações secundárias, Andrew Santino e Jeff Ross reforçam o vínculo da produção com o universo do stand-up. Eles contribuem com breves intervenções que funcionam por sua autenticidade, não pelo desenvolvimento dos personagens. Já Efron chama atenção por outro motivo: há uma estranheza na composição de seu rosto que retira naturalidade da performance, deslocando-o da dinâmica do grupo. Isso não o impede de cumprir o papel central, mas dificulta a criação de alguma profundidade.
O filme encontra seu ponto mais eficiente na simplicidade. Quando abandona pretensões de grandeza e aceita que seu valor está na leveza, alcança certa honestidade. Há risos, há momentos pontuais de criatividade e há um elenco que se esforça para extrair sentido de um enredo pouco plausível. Não se trata de um título que busca relevância, mas de um produto que opera dentro de expectativas modestas e, por isso mesmo, pode satisfazer quem estiver disposto a desligar a exigência racional por algumas horas. A produção não aspira a permanência, mas cumpre o contrato básico de entretenimento imediato. É suficiente para quem demanda apenas isso.
★★★★★★★★★★

