10 romances escritos por mulheres que redefiniram a literatura moderna

10 romances escritos por mulheres que redefiniram a literatura moderna

Ao longo do século 20 e no início do 21, a literatura foi marcada por uma revolução silenciosa. A insurgência de vozes femininas que não apenas passaram a integrar o cânone, mas o redesenharam por completo foi patrocinada por mulheres que ousaram escrever, apresentando ao mundo suas dores, seu anseio por igualdade e justiça social, sonhos e epifanias. O corolário desta pequena grande revolução foi o despontar de talentos vigorosos, que desafiam as formas, assuntos e, o principal, os limites impostos pela tradição literária, dominada por homens brancos e ocidentais. A literatura moderna abriu-se a uma profusão de estilos e universos, tornou-se mais plural, mais verdadeira. Escritoras a exemplo de Virginia Woolf (1882-1941) romperam com a narrativa linear e iluminaram as camadas mais sombrias da alma humana mergulhando na alma de personagens densos, introspectivos, ensimesmados, num fluxo de consciência por meio do qual chega a tópicos como o avanço inexorável do tempo, memória, solidão, identidade e finitude. Sua escrita foi de fundamental importância para que se descobrissem outras faces da tal condição feminina.

Com “O Segundo Sexo” (1949), Simone de Beauvoir (1908-1986) redefiniu a maneira como a enxergamos a mulher e como ela se vê. Misturando romance e ensaio num registro da construção social da mulher e de como foi reduzida à condição de “outro” em relação ao homem, a filósofa influenciou profundamente todas as ficcionistas que vieram depois dela. Essa transformação tomou proporções heroicas abaixo do Equador. Clarice Lispector (1920-1977) e sua prosa poética conferiram à literatura uma aura entre mística e brutal, conforme se lê em “A Paixão Segundo G.H.” (1964), em que dilui o enredo numa experiência íntima, idiossincrásica, cujo desfecho surpreende pelo atrevimento. Carolina Maria de Jesus (1914-1977), por sua vez, traça um novo ângulo acerca da questão da mulher negra, pobre e periférica no agora incensado “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” (1960), uma evidência de que certos livros antecipam-se de tal modo à conjuntura em que nascem que precisam de um longo tempo de maturação — maturação nossa, que fique claro.

Woolf, com “Um Quarto Todo Seu” (1929), livro seminal para o feminismo moderno, Clarice e Carolina integram a seleção abaixo, junto com outras sete escritoras que promoveram uma metamorfose na arte literária nos últimos cem anos. Essas bravas pioneiras deixaram páginas que encantam pelo arrojo, pela autoconfiança, pela vontade de remexer feridas e acender debates incômodos, mas sempre urgentes. Mulheres que tomaram a palavra e a aperfeiçoaram. Seu legado há de permanecer.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.