7 livros que previram os colapsos do século

7 livros que previram os colapsos do século

O século 21 nasceu sob o signo da promessa. Avanços tecnológicos, globalização, inteligência artificial, integração entre os povos e as culturas e aperfeiçoamento da medicina pressagiavam um tempo de profundas transformações, que brindariam a humanidade com um dia a dia mais prático, relações internacionais serenas, vidas mais longevas e muito mais saudáveis. Entretanto, as duas primeiras décadas deste insano século trataram de colocar abaixo as ilusões, e esfregar-nos na cara que continuamos a nos lançar no abismo da intolerância, do ódio, da desigualdade social, talvez esperando a invasão dos bárbaros.

Eles vieram, não para nos salvar, mas para enterrar-nos definitivamente. O século 21 talvez seja o período histórico sobre o qual pairam mais dúvidas — exceto quanto à urgência de se erradicar certos hábitos. Apesar dos incansáveis alertas da comunidade científica e de ONGs de defesa do ambiente, o mundo continuou a queimar combustíveis fósseis, desmatar florestas e encher de microplásticos os oceanos. Ondas de calor recorde, dilúvios, incêndios, derretimento das calotas polares e extinção em massa de espécies são o novo normal. Não se trata do futuro, mas de um presente desafiador, efeito da pletora de decisões equivocadas, despreparo e negligência. Um Antropoceno apocalíptico, infernal. A Era das Catástrofes. 

A definição do historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) para o avassalador torvelinho de infortúnios que nos colhe alcança também a ascensão, sob a roupagem pseudoliberal, de regimes autoritários, inconfessadamente ajudados pelos algoritmos. Demagogos aludem a instrumentos democráticos para bombardear a democracia, alimentando-se de notícias falsas, da polarização e da descrença nas instituições. Antes vistas como meios para que se conservassem as liberdades individuais, as redes agora são usadas para a manipulação mais rasteira.

O que impera não é a lei, mas a pós-verdade e seu poder de mudar o real em delírio e vice-versa, prevalecendo a “narrativa” sobre o fato. Os anseios por um mercado que se autorregulasse provou-se uma quimera. Retrocedendo-se um pouco, a crise financeira de 2008 colocou a nu as fraquezas de um sistema construído sobre especulação, endividamento e desigualdade. Não demorou muito para que bilionários ficassem ainda mais ricos enquanto milhões perdiam seus empregos, suas casas e a dignidade. Definitivamente, o século 21 não tem sido alentador para os mais pobres, e faz a festa de uns nove ou dez cujos patrimônios superam PIBs de um punhado de nações africanas. 

“Era dos Extremos”, o livro de Hobsbawm, sintetiza o colapso do século 21, plantado e adubado à farta ao longo do século que o antecedeu, e traz consigo análises que os demais seis volumes desta seleção ecoam. Todos esses colapsos estão interligados, e não são uma pane no sistema: são o sistema a operar sem nenhum freio moral. Colapsos podem ser o início de uma nova era; todavia, faltam-nos líderes corajosos e sensatos para tal.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.