Nem sempre sobra tempo, ou paciência, para encarar uma maratona cinematográfica. Mas talvez o segredo esteja em diluir, não devorar. Um filme por dia, como quem toma um bom vinho: lentamente, com presença, sem pressa de terminar. A proposta desta lista é simples, mas eficaz: sugerir cinco títulos da Netflix que se encaixam perfeitamente no ritmo da semana. Um para cada dia útil, de segunda a sexta, cada qual com uma tonalidade distinta, refletindo as emoções que costumam nos atravessar ao longo desses dias em que o tempo parece sempre escasso e a mente, saturada.
A lógica aqui não é apenas temática, mas sensorial. Segunda, por exemplo, pede algo melancólico, mas com beleza. Terça pode ser mais introspectiva. Quarta, um mergulho no estranho ou no silêncio. Quinta, aquele momento de rever o passado com um pouco mais de humanidade. E sexta… bem, sexta já é quase ficção científica: um dia que carrega o cansaço da semana e a projeção de um futuro possível — ou impossível. Os filmes escolhidos respeitam esse compasso interno, esse pequeno ritual de (re)conexão com o que sentimos, sonhamos e tememos, enquanto o mundo lá fora insiste em correr.
Ao invés de escolher por gênero ou premiação, optamos por obras que, mesmo muito diferentes entre si, compartilham a capacidade de tocar zonas íntimas e provocar reflexões que permanecem para além dos créditos finais. Essa pequena curadoria semanal não tem a pretensão de definir o melhor do cinema, mas talvez revele o melhor da experiência de vê-lo com atenção. Porque há algo de profundamente transformador quando um filme certo encontra o momento certo. E talvez, só talvez, essa semana seja o momento certo para todos eles.

Eileen vive uma rotina abafada na Nova Inglaterra dos anos 1960. Funcionária de uma instituição correcional para jovens infratores, ela habita uma existência marcada por silêncios e desconfortos — tanto em casa, sob o olhar opressor do pai alcoólatra, quanto no trabalho, em meio à repressão moral e emocional. Tudo muda com a chegada da doutora Rebecca, uma psiquiatra carismática, refinada e enigmática, que abala o equilíbrio frágil da protagonista. A aproximação entre as duas provoca em Eileen uma transformação súbita, que a leva a explorar territórios psíquicos e sexuais até então reprimidos. No entanto, o que começa como fascínio e libertação logo mergulha em um terreno sombrio. Aos poucos, Eileen é conduzida a um enredo inesperado de obsessão, revelações perturbadoras e escolhas radicais.

Kya cresceu isolada nos pântanos da Carolina do Norte, abandonada por sua família ainda na infância e obrigada a aprender a sobreviver sozinha. Vista como uma estranha pela comunidade local, ela se transforma em lenda, a “menina do brejo”, enquanto se refugia na natureza. Quando um jovem da cidade é encontrado morto, Kya se torna a principal suspeita, mergulhando em um julgamento que expõe os preconceitos e as violências que a cercam. Paralelamente, memórias de seus amores passados, de traições e descobertas, revelam uma jovem marcada tanto pela dor quanto pela força. O filme alterna entre o mistério do assassinato e a reconstrução da vida de Kya, revelando uma personagem que desafia o abandono, a solidão e o rótulo de selvagem que lhe foi imposto.

Sammy Fabelman cresce fascinado pelas imagens em movimento e pela maneira como os filmes podem capturar e reconstruir a realidade. Apoiado por sua mãe criativa e emocionalmente instável, e confrontado pela rigidez do pai, ele encontra na câmera uma forma de processar o mundo à sua volta. Ao longo dos anos, a paixão de Sammy pelo cinema se mistura com as descobertas duras da vida: segredos familiares, mudanças bruscas e rupturas afetivas. Seu olhar, antes ingênuo, amadurece à medida que ele percebe que filmar não é apenas registrar, é reinterpretar, reinventar e, às vezes, proteger-se da dor. Acompanhamos sua trajetória da infância à juventude, em uma narrativa que mistura memórias, ficção e realidade, revelando o poder da arte como espelho e fuga.

Em um futuro próximo, a Terra tornou-se praticamente inabitável após um colapso ambiental. A maioria da população humana já partiu para uma colônia em uma lua de Júpiter chamada IO. Sam, uma jovem cientista, escolheu permanecer no planeta devastado, tentando desesperadamente encontrar uma forma de restaurar a atmosfera e preservar algum vestígio da civilização. Sua rotina solitária é interrompida com a chegada de Micah, um homem determinado a pegar a última nave para IO. O encontro entre os dois coloca em xeque as certezas de Sam, forçando-a a decidir entre partir rumo ao desconhecido ou insistir em sua crença de que o planeta pode, e deve, ser salvo. A paisagem silenciosa, a escassez de vida e o peso das escolhas tornam o filme uma meditação sobre futuro, perda e persistência.

Quando criaturas misteriosas e mortais surgem das profundezas da Terra, atacando qualquer som humano, o mundo entra em colapso. A jovem Ally Andrews, surda desde a infância, torna-se peça-chave na sobrevivência de sua família, pois todos precisam aprender a viver em completo silêncio. Juntos, eles fogem para o interior em busca de refúgio, tentando se adaptar ao novo código de sobrevivência: o da ausência total de ruído. No entanto, a ameaça maior pode não vir apenas das criaturas, mas de um culto fanático que vê na nova ordem silenciosa uma oportunidade para instaurar sua própria doutrina. Entre paisagens desertas e a tensão constante do som que não pode ser emitido, o filme acompanha essa travessia angustiante onde o menor descuido pode ser fatal, e onde o silêncio também guarda seus horrores.