Shakespeare dizia que a música é o alimento do amor. Os livros são considerados alimentos do cérebro, mas é bom lembrar que os filmes e séries também ajudam a alimentar o espírito, trazendo bom humor, relaxamento, empatia e criatividade. Dito isso, não pretendo convencer ninguém de que os livros têm substitutos, de forma alguma. Ler é fundamental para expandir a mente, aprender coisas novas, ver o mundo com outros olhos. Mas é importante lembrarmos que há outras maneiras de descansar a mente, e elas não devem ser subestimadas. Nem tudo que está nas telas deve ser desprezado, e é por isso que selecionamos quatro séries incríveis para maratonar quando você estiver se sentindo cansado dos livros.
Essa seleção inclui produções com enredos riquíssimos, diálogos inteligentes, reviravoltas impensáveis e personagens que definitivamente vão transformar sua maneira de ver o mundo. Aqui está o verdadeiro tesouro da televisão: uma riqueza de entretenimento. Essas produções não foram feitas apenas para vender, elas realmente se preocupam em se conectar com os espectadores por meio das palavras e das imagens. Encapsulam todas as artes em uma forma singela de expressão capaz de alcançar todos os públicos, de todas as camadas e esferas sociais: jovens, idosos, mulheres, homens, ricos, pobres, trabalhadores e patrões. Todos se sentirão de alguma forma representados aqui.
Amamos essas séries porque sua semiótica foi minuciosamente elaborada para criar algo que transcende o mero entretenimento e alcança todas as pessoas. Aqui há mensagem — comercial, sim —, mas com inteligência e criatividade. Agora vamos às séries que, se você ainda não assistiu, é bom começar agora mesmo.

Um garoto é acusado de um crime brutal. O que poderia ser só mais um drama de tribunal se transforma num experimento cinematográfico: Adolescence é toda filmada em longos planos-sequência, onde não há cortes entre a infância, o trauma, a violência e o julgamento moral coletivo. A série, britânica e minimalista, se tornou um fenômeno inesperado na Netflix, acumulando milhões de espectadores. A trama se constrói entre a tensão dos silêncios e o desconforto dos olhares, num jogo ambíguo entre inocência e culpa. A performance do protagonista — um estreante de 14 anos — e o roteiro que recusa soluções fáceis colocam o espectador no papel de cúmplice e juiz. O crime é só o ponto de partida: o verdadeiro mistério está no que a sociedade está disposta a fazer com um menino quando não quer ver o que ele se tornou — ou por quê.

Situada no coração de Pittsburgh, esta série acompanha o dia a dia exaustivo e emocionalmente intenso dos profissionais que trabalham em um hospital público da cidade. Entre turnos longos e emergências constantes, médicos, enfermeiros e demais funcionários precisam lidar não apenas com a pressão da rotina clínica, mas também com suas próprias crises pessoais e familiares. As tensões no ambiente de trabalho, as disputas internas e a burocracia do sistema de saúde muitas vezes parecem quase tão difíceis quanto salvar vidas. No meio desse turbilhão, surge a necessidade de resiliência, solidariedade e coragem para enfrentar os dilemas éticos e humanos que o ofício exige. “The Pitt” não é apenas um retrato realista da medicina moderna, mas uma homenagem aos profissionais que dedicam suas vidas a cuidar do próximo, mesmo quando tudo parece desabar ao redor.

E se sua mente pudesse ser dividida entre trabalho e vida pessoal? E se você não lembrasse quem é fora do escritório — e nem soubesse que existe um “fora”? Em Ruptura, distopia elegante e claustrofóbica da Apple TV+, o escritório da Lumon Industries esconde um experimento radical de controle psicológico. Mark lidera uma equipe cuja consciência é fraturada: a parte que trabalha nunca sai, e a que vive nunca trabalha. À medida que memórias fragmentadas e emoções vazam entre os dois mundos, a série mergulha no horror corporativo com uma estética fria e hipnótica. A segunda temporada, lançada em 2025 após grande expectativa, amplia os dilemas existenciais e éticos com mais profundidade filosófica e tensão conspiratória. Uma alegoria desconcertante sobre identidade, alienação e o preço de se “desconectar”.

Carmen “Carmy” Berzatto era uma estrela em ascensão na alta gastronomia de Nova York até a morte repentina do irmão o obrigar a retornar a Chicago para assumir o restaurante decadente da família. O que deveria ser apenas um recomeço vira um mergulho emocional em traumas não resolvidos, heranças familiares tóxicas e os absurdos cotidianos de uma cozinha caótica. “The Bear” transcende o universo gastronômico para retratar as tensões entre passado e presente, genialidade e autossabotagem, amor e raiva. Com atuações visceralmente intensas, especialmente de Jeremy Allen White e Ayo Edebiri, a série equilibra episódios claustrofóbicos com respiros de humanidade e beleza. A quarta temporada, lançada em 2025, reforça o retrato de um time que busca harmonia num mundo que só conhece pressão e fogo alto.