A série espanhola da Netflix que se tornou a mais vista no Brasil na atualidade Divulgação / Netflix

A série espanhola da Netflix que se tornou a mais vista no Brasil na atualidade

O audiovisual espanhol parece querer recuperar todas as oportunidades de falar de sexo que possa ter desperdiçado. É a sensação que se tem diante de “Olympo”, a nova série criada por Ibai Abad, Laia Foguet, Alba Lucío e Jan Matheu, com direção geral de Marçal Forés. “Elite” (2018-2025) com suor, “Olympo” gira em torno de jovens atletas concentrados num certo Centro de Alto Rendimento Pirineros, na fronteira entre a França e a Espanha, de onde só saem para competições e, claro, para as Olimpíadas. Não é preciso ser gênio para intuir que, entre um e outro mergulho, uma ou outra corrida ou nos intervalos dos treinos de rúgbi — principalmente nos intervalos dos treinos de rúgbi —, o sobejo de testosterona é descartado de uma maneira mais, digamos, cinematográfica. Tudo tão pouco inovador quanto eficiente.

O texto de Matheu tenta tomar alguma distância do drama ambientado em Las Encinas, a escola frequentada por adolescentes endinheirados e alguns bolsistas. Aqui, injustiça social, drogas, sexualidade e a urgência por autoafirmação são estampados em físicos irretocáveis, um assunto que também poderia ganhar ênfase, caso o imediatismo não fosse a tônica. A introdução fornece algumas falsas pistas sobre um andamento menos pasteurizado, com a abordagem de temas sérios a exemplo da chegada de Zoe Moral, a heptatleta negra interpretada por Nira Osahia. Zoe parece ter sido feita para ocupar aquele espaço, mas logo dá-se conta de que terá antes de vencer a resistência de veteranos como Jana Castro, de Melina Matthews, que não faz nenhuma questão de disfarçar o incômodo diante da possibilidade de ser arrancada de seu pedestal. Forés, contudo, prefere diluir essa subtrama ao longo dos oito episódios, acrescendo uma inspeção antidoping um tanto nonsense a dada altura. 

O namoro secreto de Roque e Diego, dois jogadores de rúgbi que experimentam a homossexualidade de jeitos opostos, mas complementares, salva muito de “Olympo”. Agustín Della Corte, um ex-atleta da seleção uruguaia de rúgbi que disputou a Copa do Mundo de 2019, encontra o tom mais adequado para expressar o íntimo desajuste de Roque, enquanto Gleb Abrosimov faz de Diego uma máquina, um caçador de vitórias, até que Sebas, de Juan Perales, entra na jogada. Della Corte, Abrosimov e Perales fazem milagre com o que têm em mãos, num conto aguado de saúde mental, amor, loucura e luta por hegemonia. Tudo surpreendente como a reexibição de um amistoso durante uma madrugada fria.


Série: Olympo
Criação: Ibai Abad, Laia Foguet, Alba Lucío e Jan Matheu
Ano: 2025
Gêneros: Drama, mistério 
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.