Presentear alguém com um livro é um gesto de afeto, dizem. Mas e quando o afeto é só um fiapo, mal disfarçado sob camadas de rancor? Quando você quer dar algo que pareça sofisticado, mas que secretamente funcione como castigo? Aí entra a categoria literária mais subestimada da história: o presente passivo-agressivo. E, para isso, nada melhor do que aqueles títulos que explodiram nas redes, emocionaram milhões e, sinceramente, testaram nossa paciência com frases de autoajuda de rodapé, dramas com gosto de fanfic e um toque de pieguice premium. Esta é a lista para quem quer dar algo bonito por fora e intragável por dentro. Uma estante de rancor com capa brochura.
Tem o livro que parece poético, mas tem cheiro de post de LinkedIn. Aquele outro que jura que vai mudar sua vida, e muda mesmo, porque depois dele você passa a checar resenhas antes de comprar qualquer coisa. Sem falar nos que vendem superação embalados em frases de para-choque de caminhão e rimas de escola pública nos anos 90. É tudo lindo na teoria, até a pessoa começar a ler e perceber que ganhou um presente que exige mais paciência que afeto. Mas, claro, a entrega é feita com um sorriso, porque o que importa não é o conteúdo, é o gesto. E o gesto diz: “lembrei de você na hora”.
E o melhor? A vítima vai se sentir na obrigação de agradecer. Vai postar nos stories. Vai fingir que amou. Vai tirar foto segurando o livro com olhar contemplativo. E você, como um agente do caos com diploma de bom gosto, vai assistir de camarote. Essa lista foi feita para você que quer presentear como quem dá um tapinha com luva de pelica. Um “te adoro” com gosto de indireta. Livros que não merecem o fogo porque o papel é bom demais pra isso. Se é pra odiar, que seja com classe. Se é pra dar um presente ruim, que ele venha encapado em hashtag motivacional. Com vocês, os títulos perfeitos para azedar o dia de alguém, com muito, muito carinho.

Uma tragédia travestida de romance poético, onde todos choram — inclusive o leitor, mas de cansaço. A história se desenrola em torno de um triângulo amoroso tão melodramático que faria uma novela das oito parecer contida. A autora aposta em frases de efeito e simbolismos excessivos para narrar desgraças em série, sem tempo para o leitor respirar ou simpatizar. Os personagens flutuam entre a caricatura e a histeria, imersos num rio de dor que não corre: transborda, alaga e afoga qualquer nuance. A prosa tenta ser lírica, mas escorrega numa solenidade afetada, que transforma a leitura em um eterno lamento. Ideal para quem você quer ver tentando entender por que o sofrimento virou tendência editorial. Uma narrativa onde o trauma é a estética, e o enredo, um naufrágio emocional com pretensões filosóficas.

Um livro que grita para você não se importar, mas em tom tão insistente que soa desesperado por atenção. Disfarçado de antimanual de autoajuda, traz conselhos que se pretendem revolucionários, mas que na prática soam como um tiozão da sabedoria de bar tentando parecer edgy. O vocabulário chulo é repetido como mantra, numa tentativa forçada de parecer autêntico, enquanto ideias óbvias desfilam como se fossem epifanias. Reflexões rasas são apresentadas como verdades libertadoras, mas carecem de profundidade para realmente incomodar ou esclarecer. A leitura é rápida, porém o incômodo persiste: não pelo que provoca, mas pelo que promete e não entrega. Perfeito para quem adora uma frase de impacto e odeia pensar por mais de três minutos seguidos.

Um amontoado de aforismos sentimentais que tentam tocar o leitor com a sutileza de um trator poético. A proposta é oferecer consolo em tempos difíceis, mas o resultado é uma coletânea de lugares-comuns reciclados, frases que parecem ter saído direto de uma embalagem de biscoito da sorte. A leitura, embora rápida, se torna repetitiva já na terceira página, como se a mesma ideia fosse reescrita com novas vírgulas. Tudo soa urgente, mas nada ressoa de fato. Há uma busca quase desesperada por emoção, que transforma cada texto em uma tentativa de viralizar no feed de alguém carente. Ideal para quem acha que todo sofrimento precisa de legenda em letra cursiva. Um presente impecável para aquele conhecido que confunde profundidade com excesso de adjetivos.

Uma coletânea que se vende como antídoto para tempos difíceis, mas que funciona melhor como catálogo de frases de efeito com rima. A proposta é inspirar, emocionar e levantar o astral, mas a execução se perde entre a ingenuidade do conteúdo e a previsibilidade da forma. Cada poema parece feito sob medida para viralizar em grupos de WhatsApp, com métrica didática e moral da história evidente. O cordel, aqui, se transforma em bordado motivacional, tingido de boas intenções, mas pouca sutileza. O leitor mais exigente logo percebe o padrão: começa com dor, termina com esperança — e no meio, um vácuo literário. Ótimo para aquele amigo que acredita que poesia boa é a que cabe num story. Um presente que transforma, sim — amor pela literatura em paciência zen.