5 perfumes que poderiam ser personagens de Clarice Lispector Foto / IMS

5 perfumes que poderiam ser personagens de Clarice Lispector

É possível que certos cheiros pensem. Não no sentido literal — ainda que, por vezes, pareça —, mas naquela camada onde o corpo não sabe mais distinguir o que é memória, presença ou invenção. Há perfumes que não entram pela pele: entram pela frase interrompida, pelo olhar que escapa, pela sensação de que alguma coisa em nós foi tocada sem permissão. E é aí, nesse território indizível, que eles começam a se parecer com personagens. Não qualquer personagem. Mas aqueles que preferem o silêncio ao convencimento, que não se apressam, que têm uma interioridade espessa e, por isso mesmo, permanecem.

Essas fragrâncias não seduzem — convocam. Vêm com uma espécie de melancolia delicada, uma nostalgia sem origem, um peso que não dói. Muitas delas nem chegam a ser agradáveis no primeiro contato. E talvez nem queiram. São feitas de outro tempo, de outra linguagem, uma que exige escuta lenta, atenção flutuante, sensibilidade porosa. Como as figuras criadas por Clarice, elas não se explicam. Recusam a clareza. Preferem o paradoxo — entre doçura e dureza, presença e recuo, instinto e pensamento.

Há uma mulher ali — ou a ideia de uma mulher. Às vezes inteira, às vezes partida. Nunca superficial. Cheiros que exalam contradição, que se equilibram no fio entre o que sustenta e o que desfaz. Cada um deles parece ter uma história que não quer ser contada — apenas intuída. E quem se aproxima com pressa não sente nada. É preciso tempo, pele limpa, um silêncio disposto a escutar o que não tem nome.

Porque alguns perfumes, como certos personagens, não são feitos para agradar. São feitos para acompanhar. Para habitar. Para nos deixar um pouco mais próximos de algo que quase entendemos — mas preferimos apenas sentir.