Bons livros podem fazer a diferença na vida de alguém. Livros ruins, por outro lado, reúnem uma fabulosa sucessão de argumentos pueris, lugares-comuns extenuantes e histórias incapazes de se sustentar e tanto menos ser motivo de inspiração ou fonte de alívio, seja pela forma, seja pelo conteúdo. Essas publicações perdem-se em algum parte da cognição humana, entre a retina e o cérebro, e dali não saem, acumulando poeira, estagnadas, compondo uma espécie de brejo, onde nada floresce, mas não morre. Paradoxalmente, o mercado editorial não para de investir em títulos que satisfazem uma urgência por entretenimento instantâneo e porca filosofice, observando um padrão de êxito comercial, arcaicíssimo, porém certeiro. Livros têm vindo à praça com o claro intento de alçar o rol de campeões de vendas, o que exige planejamento e, o mais importante, obediência cega às pesquisas de marketing. O que dá lucro fica, merece atenção redobrada dos executivos e se perpetua; o que encalha deixa as planilhas imediatamente, descartado como inutilidade, velharia, peso morto.
Feita de obras que moldaram o pensamento ocidental, definiram estilos e influenciaram gerações, a literatura canônica está em baixa, e a indústria cultural voltada à produção literária parece estar disposta a ocupar esse espaço, recuperando ainda seu próprio tempo perdido. Não, não deve ser fácil encontrar a justa medida entre criatividade e liquidez financeira, e donos de editoras e livreiros têm de pensar em seus negócios. Todas as coisas estariam no seus devidos lugares, não fosse por um detalhe: aqueles que têm por obrigação pensar na formação intelectual do povo, na melhoria dos ensinos básico e fundamental, no fomento real da cidadania, aquela ideia tão gasta quanto preciosa em que ninguém mais aposta um tostão, fecham os olhos à escola de qualidade, acham que bibliotecas públicas não fazem o menor sentido num mundo digital, “conectado”, iludem-se com as promessas vãs da inteligência artificial, que só se realizam para o lado de lá.
Como resultado, livros vulgares, torpes, esses, sim, descartáveis — ao menos sob a perspectiva da relevância ontológica —, que agradam à maioria e não dizem nada a ninguém, vão cada vez mais longe. Decerto o exemplo mais ilustrativo dessa contínua degradação intelectiva é o infame (e aclamado) “Café com Deus Pai” (2022), do empreendedor e líder espiritual Junior Rostirola, nessa ordem, o carro-chefe da triste seleção abaixo, com outros nove títulos que provam a debacle da civilização no que toca ao requinte estético, ao raciocínio sofisticado, à honestidade dos princípios. À arte, à cultura e até ao entretenimento, universos distintos, mas que deveriam estabelecer algum ponto de contato.

“Café com Deus Pai” é um devocional cristão que propõe uma aproximação íntima e cotidiana entre o leitor e Deus. Escrito por Junior Rostirola, o livro oferece reflexões diárias com base bíblica, combinando versículos, orações e mensagens motivacionais. A linguagem simples e acessível visa tocar emocionalmente o leitor, muitas vezes utilizando metáforas do cotidiano para tornar os ensinamentos espirituais mais aplicáveis. O autor assume uma postura pastoral, conduzindo os leitores por temas como fé, perdão, propósito, ansiedade e identidade. O tom acolhedor e paternal busca gerar conforto e confiança, quase como um convite a tomar um café diário com Deus. No entanto, a obra pode soar repetitiva e superficial para leitores que esperam maior profundidade teológica. A ausência de debates mais críticos ou complexos sobre a fé limita seu alcance a um público essencialmente devocional. A proposta não é doutrinar, mas alimentar a espiritualidade com leveza. É um livro que encontra sentido no hábito, mais do que na reflexão intelectual.

“As Mentiras Que Nos Contaram Sobre Deus”, de William P. Young, é uma obra provocadora que desafia visões tradicionais do cristianismo institucionalizado. Com base em sua experiência pessoal e em reflexões espirituais profundas, o autor questiona doutrinas rígidas que, segundo ele, afastam as pessoas de um relacionamento autêntico com Deus. Young expõe uma teologia mais inclusiva, amorosa e compassiva, contrapondo-se a noções como a de um Deus punitivo, a exclusividade religiosa e a condenação eterna. Seu texto dialoga com os leitores em tom acessível e íntimo, mas não deixa de tocar em temas controversos, o que pode gerar resistência entre os mais ortodoxos. Para alguns, o livro soa libertador, por desconstruir imagens de Deus associadas ao medo e à culpa; para outros, pode parecer herético ou superficial. Young privilegia a vivência da graça e da empatia sobre o dogma, propondo uma espiritualidade que acolhe as fragilidades humanas. A obra funciona como continuação conceitual de “A Cabana”, reforçando seu compromisso com uma fé baseada no amor incondicional. Ainda que não se aprofunde academicamente em teologia, “As Mentiras Que Nos Contaram Sobre Deus” é relevante como um convite à reflexão espiritual fora dos moldes convencionais.

Em forma de ensaio, Elizabeth Gilbert propõe em “Grande Magia — Vida Criativa Sem Medo” uma nova forma de encarar a criatividade, desmistificando a ideia de que ela é um dom restrito a artistas geniais. Com linguagem acessível e tom confessional, a autora — conhecida por “Comer, Rezar, Amar” (2006) — defende que todos têm potencial criativo, desde que enfrentem o medo com leveza e curiosidade. Para Gilbert, as ideias criativas são entidades autônomas que “visitam” pessoas dispostas a colaborar com elas. Essa metáfora pode soar mística demais para alguns leitores, mas funciona como provocação para sair da inércia. O livro se estrutura como uma conversa íntima, recheada de exemplos pessoais e conselhos motivacionais, o que pode agradar iniciantes na jornada artística, mas frustrar quem busca profundidade teórica. Gilbert evita o perfeccionismo e celebra o fazer pelo simples prazer de criar, o que traz um frescor libertador à obra. No entanto, a ausência de embasamento crítico mais sólido pode limitar seu alcance a um público mais exigente. Ainda assim, “Grande Magia – Vida Criativa Sem Medo” cumpre seu papel como um chamado à coragem criativa, mais emocional que técnico, mas sincero em seu propósito.

“Cinquenta Tons de Cinza”, primeiro volume da trilogia escrita por E. L. James, narra o envolvimento entre Anastasia Steele, uma jovem ingênua, e Christian Grey, um empresário bilionário com gostos sexuais peculiares. O romance rapidamente se tornou um fenômeno de vendas, impulsionado pelo apelo erótico e pela curiosidade em torno do universo BDSM, ainda pouco explorado na literatura popular. No entanto, o livro tem sido alvo de críticas contundentes quanto à qualidade da escrita, considerada repetitiva e simplista. A construção dos personagens é rasa: Ana frequentemente oscila entre submissão e dependência emocional, enquanto Grey é uma caricatura de masculinidade ferida e controlador obsessivo. O enredo, por vezes, romantiza comportamentos abusivos, confundindo dominação sexual consensual com manipulação psicológica. Ainda assim, o livro teve impacto cultural significativo ao abrir espaço para o erotismo feminino no mainstream editorial. Apesar disso, “Cinquenta Tons de Cinza” pouco contribui literariamente, sendo mais um produto de consumo do que uma obra com densidade narrativa ou estética.

“Crepúsculo”, de Stephenie Meyer, é o primeiro volume da saga que narra o romance entre a adolescente Bella Swan e o vampiro Edward Cullen, ambientado na chuvosa cidade de Forks, nos Estados Unidos. A trama se desenvolve com foco no amor proibido entre os protagonistas, marcado por tensões sobrenaturais e dilemas adolescentes. Meyer combina elementos do romance gótico com melodrama juvenil, criando um universo que atraiu milhões de leitores ao redor do mundo. O livro é eficaz em capturar os conflitos da adolescência, especialmente a sensação de deslocamento e o desejo por intensidade emocional. No entanto, é frequentemente criticado pela idealização de relacionamentos tóxicos, pela passividade da protagonista e por diálogos artificiais. A narrativa, em primeira pessoa, oferece acesso íntimo aos pensamentos de Bella, mas limita a complexidade dos outros personagens. Do ponto de vista literário, a escrita de Meyer é simples e repetitiva, priorizando emoção sobre profundidade narrativa. Ainda assim, “Crepúsculo” desempenha um papel importante na cultura pop dos anos 2000, redefinindo o gênero de romance sobrenatural juvenil e impulsionando um mercado dominado por trilogias e sagas. Seu sucesso revela tanto o apelo do escapismo romântico quanto as lacunas que a literatura juvenil contemporânea pode ocupar.

“As 5 Linguagens do Amor para Solteiros”, de Gary Chapman, adapta sua famosa teoria das linguagens do amor para pessoas que ainda não estão em um relacionamento afetivo estável. A obra parte da premissa de que todos possuem uma linguagem principal pela qual se sentem mais amados: palavras de afirmação, tempo de qualidade, presentes, atos de serviço e toque físico. Ao direcionar essa análise para solteiros, o autor amplia a aplicabilidade da teoria, mostrando que essas linguagens também influenciam relacionamentos familiares, amizades e ambientes profissionais. Chapman apresenta exemplos práticos e depoimentos que ilustram como o autoconhecimento afetivo pode transformar conexões interpessoais. A escrita acessível, voltada ao público leigo, facilita o engajamento com conceitos psicológicos básicos, ainda que por vezes caia em simplificações. O tom pastoral reflete sua formação religiosa, o que pode soar excessivamente normativo para leitores que buscam uma abordagem mais laica ou crítica. Apesar disso, o livro oferece insights úteis sobre empatia e escuta emocional, e convida o leitor a pensar no amor para além do romance. Ao reconhecer que a afetividade molda todos os vínculos humanos, a obra se propõe como um guia prático de comunicação emocional em um mundo cada vez mais desconectado.

“O Código Da Vinci”, de Dan Brown, é um thriller de mistério que mistura arte, religião, história e teoria da conspiração em uma narrativa de ritmo acelerado. O protagonista, Robert Langdon, um simbologista de Harvard, é arrastado para uma investigação após o assassinato de um curador do Museu do Louvre. Ao lado da criptóloga Sophie Neveu, Langdon segue uma trilha de enigmas ligados a obras de arte e à suposta existência de um segredo milenar guardado pela Igreja. O romance é habilidoso em sua construção de suspense, com capítulos curtos e ganchos constantes, o que o torna envolvente para o grande público. No entanto, o livro também foi amplamente criticado por sua superficialidade histórica e distorções factuais, sobretudo no que diz respeito à Igreja Católica e ao papel de Maria Madalena. Apesar disso, Brown acerta ao provocar reflexões sobre o poder das instituições, a manipulação da narrativa histórica e a marginalização feminina na tradição religiosa. Embora não seja uma obra literariamente sofisticada, “O Código Da Vinci” destaca-se como entretenimento inteligente e provocativo, alimentando debates sobre fé, ciência e poder — ainda que muitas vezes apoiado em teorias pouco rigorosas. É um sucesso editorial que desafia os limites entre ficção e pseudociência.

“Veronika Decide Morrer”, de Paulo Coelho, é um romance que aborda temas como loucura, suicídio e o sentido da vida. A protagonista, Veronika, é uma jovem aparentemente bem-sucedida que tenta tirar a própria vida por sentir que sua existência é vazia e sem propósito. No entanto, ela acorda em uma clínica psiquiátrica e descobre que tem apenas alguns dias de vida. A partir daí, inicia-se um processo de redescoberta interior. O livro propõe que a loucura pode ser um caminho de libertação das normas sociais sufocantes e que o contato com a morte pode, paradoxalmente, reacender o desejo de viver. Coelho explora a linha tênue entre normalidade e insanidade, sugerindo que muitos dos que vivem “dentro das regras” estão, na verdade, emocionalmente mortos. Embora traga reflexões existenciais relevantes, a narrativa é por vezes simplista e marcada por diálogos artificiais e afirmações generalizantes. A prosa acessível, característica do autor, facilita a leitura, mas pode frustrar leitores que buscam maior profundidade literária. Ainda assim, “Veronika Decide Morrer” cumpre seu papel ao tocar em temas delicados com empatia e abrir espaço para discussões sobre saúde mental e autenticidade.

“O Monge e o Executivo”, de James C. Hunter, é uma parábola sobre liderança servidora, contada por meio da experiência de John Daily, um executivo bem-sucedido que participa de um retiro espiritual em um mosteiro. Durante o retiro, John reflete sobre sua vida pessoal e profissional ao lado de outros participantes, guiado por um ex-executivo que se tornou monge. A obra propõe que liderar é servir, e que a verdadeira autoridade é conquistada pelo exemplo, pela escuta e pelo respeito. Hunter utiliza linguagem acessível e exemplos cotidianos para apresentar conceitos como empatia, comprometimento e construção de confiança. Embora a estrutura narrativa seja simples e didática — com diálogos que por vezes soam artificiais — o livro cumpre seu objetivo de introduzir princípios de liderança humanizada de maneira clara e prática. Apesar das críticas ao tom excessivamente moralista e à superficialidade de certos conceitos, “O Monge e o Executivo” se tornou um best-seller ao oferecer um contraponto ao modelo de liderança autoritária. Sua força está na capacidade de inspirar mudanças comportamentais e de provocar reflexões sobre o papel da ética e da humildade no ambiente corporativo. É leitura introdutória, não técnica, mas impactante para líderes em formação.

“O Gerente Minuto”, de Ken Blanchard e Spencer Johnson, é um clássico da literatura de gestão que propõe princípios simples e práticos para a liderança eficaz. Através de uma narrativa alegórica, o livro apresenta três técnicas fundamentais: os objetivos de um minuto, os elogios de um minuto e as reprimendas de um minuto. A ideia central é que a gestão pode ser eficiente sem ser burocrática ou autoritária, bastando foco, comunicação clara e feedback imediato. A obra valoriza o tempo como um recurso essencial e destaca a importância de reconhecer o desempenho positivo dos colaboradores. Com linguagem acessível e capítulos curtos, o livro agrada leitores que buscam soluções rápidas para problemas cotidianos no ambiente corporativo. No entanto, sua simplicidade pode parecer ingênua ou limitada para gestores mais experientes ou que atuam em contextos complexos. Além disso, o tom quase didático pode soar repetitivo em certos trechos. Apesar disso, “O Gerente Minuto” tem mérito ao democratizar conceitos básicos de liderança, tornando-os aplicáveis a diversos contextos. Sua proposta pragmática e otimista continua relevante, especialmente para quem está iniciando em cargos de gestão e precisa de diretrizes claras e motivadoras.