O que sobra quando o amor vai embora — 7 livros sobre o depois

O que sobra quando o amor vai embora — 7 livros sobre o depois

O amor nunca acaba de uma vez. Quando um casal se separa, pela vida ou pela morte, ficam ainda as lembranças, tentando preencher um vazio grande demais, de emoções inexplicáveis, perguntas que podem continuar sem resposta para sempre, o vão esforço de botar alguma ordem no caos. De um momento para o outro, evolam-se cheiros dos lençóis, ruídos que só mesmo nós escutamos tratam de ocupar o ambiente e os passos de quem já se foi nos perseguem, insistentes, na dança louca das mágoas que não se curam. Não há fórmula para vencer o luto em todas as suas tétricas variações e intensidades. Cada um tem seu tempo, sua tolerância, dá suas próprias cabeçadas, inofensivas ou com força, fecha-se em si ou, pelo contrário, abre-se ao primeiro que aparece, tudo pela necessidade de superar o desconforto, a sensação de fracasso, a tristeza que paralisa, o contentamento que não satisfaz. Enquanto isso, a dor cresce.

Quando o amor acaba, sobramos nós. Revela-se-nos uma carência quase irracional, mas também a força que permite que nos reencontremos com o mais íntimo de nós, mistérios que só nós mesmos deciframos, ocultos num recôndito qualquer de nossa alma, somente esperando que tivéssemos a coragem de os encarar. Enquanto nos sorri a bênção do amor, estamos ocupados demais para olhar nossas mazelas; quando já não há mais amor, chega a hora de amar-nos a nós, com todas as nossas imperfeições. A solidão que se levanta de um amor malogrado pavimenta a longa estrada do autoconhecimento, das lições mais valiosas, dos desejos mais urgentes e genuínos, das vaidades que têm de morrer, e, aí, renasçamos. Aprendemos sobre o que ainda somos capazes de oferecer e o que não queremos mais tolerar. 

O amor morre para que outros amores vicejem —e eles sempre hão de vicejar. Recomeços fazem parte da vida, e neles mora a certeza de que o mais humano dos sentimentos é uma fênix, que sempre volta das cinzas da ilusão e do pesar. Nas sete publicações dessa lista, ausência, pranto, graças e a procura por sentido são destrinchados por autores como a ensaísta americana Joan Didion (1934-2021) no esplêndido “O Ano do Pensamento Mágico” (2005), um relato avassalador acerca da finitude, das relações, daqueles que amamos, da nossa. O assunto rende tanto que mereceu a análise do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), que reúne no aclamado “Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos” (2003) considerações sobre como os relacionamentos humanos foram afetados por cautela excessiva e incapacidade de apego sem terceiras intenções. Como se vê, amar nunca foi uma empreitada tão desafiadora quanto agora, exigindo resistência e sabedoria em graus sobre-humanos. Mas continua valendo a pena.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.