Você sabe quantos livros foram impressos no Brasil no último ano?

Você sabe quantos livros foram impressos no Brasil no último ano?

Em um país onde o tempo se comprime entre ônibus lotados, telas brilhantes e a inflação persistente, uma estatística discreta despontou como quem encontra uma livraria de rua em meio ao concreto: em 2024, os brasileiros compraram 360 milhões de livros impressos, um aumento de 10,1% em relação ao ano anterior. Trata-se de um dado silencioso, quase improvável — e, no entanto, profundamente revelador.

O dado, retirado do relatório Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – Ano Base 2024, publicado pela Nielsen BookData em abril de 2025, carrega consigo mais que números: sinaliza uma inflexão no comportamento cultural de um país muitas vezes tomado pela urgência do presente. O faturamento do setor acompanhou o movimento: R$ 6,6 bilhões em vendas, uma alta nominal de 6,8%, mesmo com a inflação orbitando os 5%.

Se o livro impresso é, como já disseram, uma “máquina de empatia portátil”, os brasileiros parecem querer mais delas.

Durante a última década, o setor editorial foi tratado com a mesma cautela reservada a uma livraria prestes a fechar. Entre a ascensão dos e-books, a evasão fiscal de grandes plataformas de venda e a recessão econômica, o destino do livro físico parecia pender para a margem do obituário cultural. E ainda assim, ele persiste — agora, surpreendentemente, crescendo.

Esse renascimento silencioso parece ter se enraizado, sobretudo, nas livrarias físicas. Em 2024, pela primeira vez em anos, esses espaços voltaram a ganhar participação no faturamento das editoras, especialmente no segmento de Obras Gerais — ficção literária, não ficção, ensaios, crônicas. É como se o leitor tivesse redescoberto a experiência quase ritualística de folhear páginas em meio ao cheiro de papel e café.

Mais revelador ainda é o dado por gênero: o relatório destaca que os livros Infantis e Juvenis lideram o faturamento, seguidos de perto pela Ficção Adulta. É tentador imaginar famílias retomando o hábito da leitura compartilhada, ou jovens que, em meio a um universo digital ruidoso, encontram nos livros um silêncio necessário.

Claro, nem todas as áreas floresceram. Os livros didáticos, dependentes das políticas públicas e dos ciclos escolares, tiveram retração. Mas o setor compensou com o avanço dos títulos religiosos, técnicos e de literatura geral — uma diversificação que sugere não apenas resiliência, mas também uma maior complexidade no perfil do leitor brasileiro contemporâneo.

É cedo para declarar uma revolução silenciosa, mas o eco das páginas viradas é difícil de ignorar. Em um país atravessado por crises políticas, desigualdade educacional e instabilidade econômica, a venda de livros impressos pode parecer trivial. Mas talvez justamente por isso ela importe tanto.

Num tempo em que tudo é efêmero, a permanência de um livro em mãos — físico, sensível, tangível — se torna um gesto quase subversivo. E no Brasil de 2024, milhões de leitores parecem ter feito esse gesto ao mesmo tempo.