Por muito tempo, o mercado editorial brasileiro oscilou entre a sobrevivência e o cansaço — como um corpo que se move por inércia, mas não avança. Em 2024, algo parece ter mudado. Não exatamente no centro. Mas nas bordas. E o que cresce nas bordas, às vezes, é o que sustenta tudo.
Segundo os dados mais recentes da Nielsen BookData, cinco gêneros literários apresentaram saltos expressivos de faturamento. Em primeiro lugar, os livros infantis e juvenis — +28,5%. Em segundo, os religiosos — +27,2%. Duas categorias que, embora pareçam distantes no conteúdo, compartilham algo essencial: pertencimento. Ou necessidade dele.
A ficção adulta, desacreditada desde o início da pandemia, também ressurgiu. Mas não por obra das livrarias ou da crítica. Foi o TikTok — ou o BookTok, para ser justo — que devolveu fôlego ao gênero. Romances com capas pastel, histórias de amor às avessas, autoras que escrevem como quem desabafa. E leitores, muitos deles jovens, que abraçaram essa literatura como quem encontra abrigo.
No campo infantil, o crescimento tem menos a ver com vendas pontuais e mais com estruturas inteiras que mudaram de lugar. Escolas privadas começaram a incluir livros literários no lugar de apostilas secas. Letramento emocional, diversidade, ecologia — palavras grandes para mãos pequenas. E isso fez diferença.
Já os livros religiosos não cresceram por marketing, mas por rede. Igrejas e templos funcionaram como editoras improvisadas, canais de distribuição silenciosos. Com preços baixos e vínculos profundos, esses livros chegaram a leitores que talvez nunca entrassem numa livraria. Ou que já deixaram de tentar.
Até o segmento didático — golpeado por cortes e atrasos — fechou o ano com leve alta. Talvez seja instinto. Um esforço final para ensinar o que não foi possível nos últimos anos. Ou só um respiro.
O mais notável é que essa recuperação não foi provocada por editais, nem por estratégias geniais de mercado. Ela veio de onde quase ninguém estava olhando. Da casa, da igreja, da escola. Da tela. Do silêncio.
E talvez por isso importe tanto. Porque, às vezes, o que salva o livro não é o que está escrito nele. É quem precisa lê-lo. Mesmo que não saiba ainda.
