As séries de televisão têm ocupado papel central no entretenimento, moldando discussões e impactando a forma como nos vemos. Entre os diversos gêneros, são aquelas com enredos para maiores de dezoito anos as que ganham cada vez mais espaço e reconhecimento. As narrativas mais ousadas, complexas e provocativas dessas produções contribuem significativamente para o alcance e consolidação de uma faixa substancial de espectadores sôfrega por consumir diversão instantânea, com destaque para conteúdos violentos e eróticos — o que desafia o estabelecido e amplia os horizontes. Em geral, uma das características que marcam as séries destinadas ao público adulto é a profundidade com que esgrimem temas delicados, malditos para produções voltadas aos mais jovens. Assuntos como política, identidade, saúde do corpo e da mente, sexo, injustiça social, corrupção, morte e luto são abordados de forma direta, sem filtros reducionistas. Isso permite ao espectador uma imersão bem mais detida e transformadora na conjuntura retratada, o que leva a reflexões intensas e duradouras.
A classificação indicativa para maiores de dezoito anos oferece aos criadores um espaço de maior frescor artístico. Com menos restrições quanto ao conteúdo de linguagem, sexualidade ou violência, roteiristas e diretores têm a chance de desenvolver personagens e tramas mais autênticos e nuançados. Tamanha liberdade possibilita diálogos mais de acordo com as múltiplas realidades do indivíduo, um universo tão vasto quanto contraditório, no qual a natureza humana surge sem amarras. Longe de estereótipos ou arquétipos ligeiros, encontram-se figuras ambíguas, com motivações conflituosas e trajetórias imprevisíveis. Nas séries adultas está a vida como ela é, com todos os seus dilemas, falhas, erros e belezas. É o que se comprova nessa lista, com as sete séries para gente grande que têm dado o que falar, a exemplo da italiana “Supersex” (2024), de Francesca Manieri, sobre a vida de Rocco Siffredi, um astro da indústria pornográfica. “Supersex” é sem dúvida a mais picante delas, e apenas uma das opções cada vez mais numerosas num mercado sem medo de polêmica.

Baseada nos livros de Elísabet Benavent, a comédia dramática espanhola “Valeria” fixa-se na protagonista homônima, uma escritora em crise na vida pessoal e na carreira e suas três melhores amigas: Lola, Carmen e Nerea. A narrativa explora temas como amor, amizade, autoconhecimento e empoderamento feminino sob uma ótica moderna e urbana, ambientada em Madri. Um dos pontos fortes da série é o retrato honesto e descomplicado das complexidades femininas, equilibrando drama e humor com uma estética vibrante e estilizada. As personagens são carismáticas e têm trajetórias individuais bem delineadas, o que fortalece o vínculo emocional com o público. Por outro lado, “Valeria” é frequentemente comparada à série americana Sex and the City, o que levanta críticas quanto à originalidade. Além disso, alguns diálogos e situações podem parecer superficiais ou forçados, principalmente no início da série. Ainda assim, a obra ganha consistência ao longo das temporadas e se destaca por retratar de forma sensível e contemporânea os desafios das mulheres urbanas de trinta e poucos anos. Com uma trilha sonora envolvente e fotografia cativante, “Valeria” é uma produção leve, porém reflexiva, que conquista seu espaço ao abordar a liberdade feminina sem pudores.

“Elite” é um drama adolescente espanhol ambientado em Las Encinas, uma escola frequentada por jovens da alta sociedade e alguns alunos bolsistas. A trama gira em torno de conflitos sociais, mistérios e assassinatos, explorando temas como desigualdade de classe, sexualidade, drogas, corrupção e identidade. Desde a primeira temporada, a série utiliza a estrutura de suspense e flashbacks para manter o espectador intrigado, misturando o universo juvenil com crimes complexos e relações intensas. Apesar de seu apelo visual e narrativa envolvente, “Elite” muitas vezes recorre a clichês e exageros que comprometem a verossimilhança dos acontecimentos. A série é criticada por tratar de temas delicados com superficialidade ou sensacionalismo, priorizando o impacto dramático em detrimento da profundidade emocional. No entanto, é elogiada por representar a diversidade sexual de forma aberta e por apresentar personagens com diferentes perspectivas sociais. À medida que avança, “Elite” perde parte de sua força inicial, com mudanças frequentes no elenco e tramas cada vez mais repetitivas. Ainda assim, mantém seu público fiel graças ao ritmo acelerado e ao apelo visual. Em resumo, “Elite” é um entretenimento eficaz, mas com limitações narrativas que impedem uma abordagem mais crítica e realista da juventude contemporânea.

A italiana “Supersex” traça um perfil ficcional da vida de Rocco Siffredi, lendário ator da indústria pornográfica. A obra mistura realidade e ficção para explorar não apenas a ascensão profissional de Siffredi, mas também suas complexas questões internas, como o vício em sexo e os dilemas familiares. Com uma abordagem ousada e estética refinada, a série evita o sensacionalismo explícito ao investir na construção psicológica do protagonista, humanizando uma figura muitas vezes reduzida a um estereótipo. A atuação de Alessandro Borghi como Rocco é um dos pontos altos, trazendo profundidade e vulnerabilidade ao personagem. A narrativa propõe uma reflexão sobre masculinidade, desejo, repressão e liberdade, ao mesmo tempo em que denuncia os limites entre o prazer e a compulsão. No entanto, há críticas quanto ao ritmo desigual e à idealização em certos momentos, que podem suavizar os aspectos mais controversos da biografia real. Apesar disso, “Supersex” cumpre seu papel ao propor uma discussão provocativa sobre a identidade e os conflitos morais no contexto do sexo como profissão. É uma série que desafia o espectador a olhar além da superfície, questionando julgamentos fáceis sobre o que é tabu.

Lançada em janeiro de 2023, a brasileira “Olhar Indiscreto” mistura suspense com erotismo. A história acompanha Miranda (Débora Nascimento), uma hacker voyeur que passa a se envolver na vida da vizinha Cléo (Emanuelle Araújo), uma acompanhante de luxo. O ponto de partida é um pedido de Cléo para que Miranda cuide de seu cachorro durante uma viagem — o que leva a protagonista a se ver enredada em uma trama de mistérios, assassinatos e desejos reprimidos. A produção se diferencia ao abordar o erotismo sob um olhar feminino, com uma equipe majoritariamente composta por mulheres. As cenas de intimidade são tratadas com cuidado, evitando a objetificação e destacando o desejo e a autonomia das personagens. A performance de Débora Nascimento é um dos pontos fortes da série, marcada pela intensidade e entrega emocional. Entretanto, o roteiro e a narrativa sofrem críticas. A história é considerada por muitos como confusa, recheada de clichês e com reviravoltas pouco convincentes. Personagens secundários mal desenvolvidos e diálogos artificiais comprometem a fluidez da trama. Mesmo com essas limitações, “Olhar Indiscreto” se destaca pela ousadia ao abordar temas como voyeurismo e BDSM, levantando reflexões sobre desejo e poder feminino. É uma obra que pode atrair quem busca histórias sensuais com suspense, embora não agrade plenamente quem valoriza uma construção narrativa sólida.

“Sex/Life” explora os dilemas entre desejo, estabilidade e identidade feminina no contexto da vida moderna. A protagonista, Billie Connelly, é uma mulher casada e mãe de dois filhos que começa a revisitar sua história, repleta de paixões intensas, especialmente pelo ex-namorado Brad. A série contrapõe o conforto da vida suburbana com os impulsos e fantasias que Billie mantém reprimidos, levantando questionamentos sobre o papel da mulher na família, o casamento e a liberdade sexual. O enredo é carregado de cenas eróticas, o que gerou polêmica, mas também destaca temas importantes como a repressão dos desejos femininos e a idealização do amor romântico. Apesar de seu apelo visual e dramático, a série recebeu críticas por sua abordagem superficial de questões complexas e por estereotipar tanto homens quanto mulheres. Ainda assim, ela se destaca por dar voz a inquietações internas que muitas mulheres enfrentam em silêncio. A produção tenta provocar reflexão sobre o equilíbrio entre desejo pessoal e responsabilidade social, embora em alguns momentos escorregue em clichês. No geral, “Sex/Life” oferece uma narrativa ousada, mas que poderia ir além do sensual para aprofundar melhor suas críticas sociais.

Criada por Álex Pina e Esther Martínez Lobato, os mesmos responsáveis por La Casa de Papel, a espanhola “Sky Rojo” acompanha três mulheres — Coral, Wendy e Gina — fugindo de um prostíbulo após agredirem gravemente seu cafetão. A série mescla ação frenética, humor ácido e crítica social em episódios curtos e intensos. Visualmente estilizada e com ritmo acelerado, “Sky Rojo” opta por uma abordagem quase pulp, com cenas violentas, trilha sonora pulsante e personagens caricatos. Embora ofereça entretenimento vigoroso, a série também tenta discutir temas sérios como exploração sexual, tráfico humano e o machismo estrutural. No entanto, essa tentativa nem sempre se equilibra com o tom estético exagerado, o que gera controvérsias. A crítica divide-se entre elogios à coragem da abordagem e questionamentos sobre a glamourização do sofrimento feminino. O desenvolvimento das protagonistas é um ponto forte, especialmente ao mostrar sua resiliência e sororidade. Por outro lado, a repetição de fórmulas e a superficialidade de certos antagonistas enfraquecem o impacto narrativo. Em suma, “Sky Rojo” é uma obra ousada e provocativa, mas nem sempre coerente entre forma e conteúdo.

Baseada no livro de mesmo nome, “O Preço da Perfeição” mergulha no universo competitivo de uma prestigiada escola de balé em Chicago. A trama se desenvolve após a misteriosa queda de uma aluna talentosa, levando à entrada de Neveah, uma jovem promissora que desafia os padrões elitistas da instituição. A série explora temas relevantes como perfeccionismo, rivalidade, bullying, abuso de poder e diversidade racial, embora muitas vezes o faça de forma superficial. Apesar do enredo promissor, a narrativa se perde em clichês adolescentes e em reviravoltas exageradas que comprometem a coerência dramática. Ainda assim, destaca-se pela trilha sonora envolvente e pelas coreografias bem executadas, que conferem dinamismo à produção. O elenco jovem entrega performances intensas, mas nem sempre convincentes, com personagens mal desenvolvidos e estereotipados. A tentativa de abordar questões sociais importantes é válida, mas peca na profundidade e sensibilidade. A estética visual é um ponto forte, reforçando o contraste entre a beleza do balé e a toxicidade do ambiente. Em resumo, “O Preço da Perfeição” oferece entretenimento, mas deixa a desejar como crítica consistente ao sistema que romantiza a dor em nome da arte.