7 livros que provocaram ações do Ministério Público no Brasil — e seguem sendo lidos nas escolas

7 livros que provocaram ações do Ministério Público no Brasil — e seguem sendo lidos nas escolas

É curioso como certos livros sobrevivem a tudo — ao tempo, à crítica, à vigilância do Estado. Permanecem ali, quase discretos, em meio a pilhas de apostilas e manuais plastificados, carregando em si uma centelha incômoda. Não gritam. Mas ardem. Alguns chamam isso de pedagogia crítica. Outros, doutrinação. E há quem os chame pelo nome mais antigo e talvez mais perigoso: literatura.

O Ministério Público, essa instituição que se move entre a denúncia e a garantia, já os olhou de frente. Com cautela. Com indignação. Às vezes, com desinformação. E quando um livro chega ao Ministério Público, algo curioso acontece: ele deixa de ser apenas leitura. Vira prova, vira suspeita, vira símbolo. Há sempre um motivo — ou pelo menos, um pretexto. Palavras ditas por personagens, cenas de violência, menções ao corpo, ao desejo, à história. Tudo é passível de interpretação quando se quer interditar.

Mas o mais impressionante não é o escândalo. É a permanência. Depois de tudo, depois das manchetes, dos processos, das reuniões em conselhos escolares, esses livros ainda estão lá. Às vezes recomendados em sala de aula, às vezes lidos às escondidas, entre risos cúmplices ou silêncios atentos. Não porque venceram. Mas porque resistem. E talvez, só talvez, porque dizem algo que precisa ser ouvido — mesmo que doa.

Quem decide o que pode ser lido? Qual a fronteira entre proteção e censura? A escola é espaço de formação ou de filtro moral? Perguntas assim não se respondem com pareceres jurídicos. Nem com discursos inflamados. Elas se infiltram, como fazem os melhores livros, nas frestas de um cotidiano marcado por disputas que ultrapassam o papel.

Em tempos em que livros viram alvo, em que bibliotecas são vistoriadas como se escondessem artefatos perigosos, convém lembrar: a literatura nunca foi inofensiva. É por isso que tantos tentam domá-la. E é justamente por isso que ela insiste. Onde há imaginação, há transgressão. Onde há leitura, há risco. E onde há risco — o verdadeiro, o necessário — haverá sempre alguém querendo interditar. Mas também haverá quem leia. Mesmo que em silêncio. Mesmo que sozinho. Mesmo que sob ameaça.