5 livros que parecem pequenos demais para tudo o que eles causam

5 livros que parecem pequenos demais para tudo o que eles causam

A literatura tem o poder de transportar leitores para universos paralelos, provocar reflexões profundas e despertar sentimentos tão pujantes quanto os da vida real. E, para grande surpresa de muitos, esse impacto não se liga à extensão da obra. Muitas vezes, são os textos breves dos contos, crônicas e novelas que levam às emoções mais intensas e inesperadas. É um fascinante paradoxo: como algo tão breve pode durar tanto? Num mundo que valoriza cada vez mais o instantâneo, as histórias curtas ganham fôlego renovado. Elas se encaixam numa rotina apressada, mas não se limitam ao superficial. Pelo contrário, o compacto da forma exige precisão na linguagem, escolhas calculadas e um vigor que, muitas vezes, dilui-se ao longo das páginas dos romances mais vastos. O que se perde em tamanho ganha-se em potência emocional. Pensemos, por exemplo, em obras como “A Metamorfose” (1915), de Franz Kafka (1883-1924). Trata-se de uma novela que pode ser lida num só golpe, mas que permanece no espírito do leitor por dias, semanas, talvez para sempre. A história de Gregor Samsa, que acorda transformado num inseto monstruoso, não precisa de centenas de páginas para revelar a angústia da exclusão, o colapso da identidade ou a pouca substância das relações em família. A concisão do texto contribui para a atmosfera de claustrofobia e absurdo, enquanto o desconforto vai se acumulando a cada parágrafo.

O poder do não dito, da sugestão, é um atributo poderoso dos textos sintéticos. As emoções despertadas por essas narrativas são arrebatadoras porque fogem ao convencional. Não são apenas o abalo de uma tragédia ou a euforia de um final ditoso, mas emoções híbridas, ambíguas, difíceis de nomear. Um bom conto pode deixar o leitor a um só tempo comovido e perturbado, reflexivo e atento. Isso se dá porque os autores que dominam a arte de ser sucinto, até lacônico, sabem criar entrelinhas, silêncios e metáforas que envolvem o leitor de maneira mais ativa. Romances, porque cheios de meandros, permitem um envolvimento gradual, um processo de imersão. Textos curtos, ao contrário, exigem um mergulho de cabeça. Não há espaço para digressões. Cada palavra tem um peso, desde as primeiras linhas, como é possível constatar nos cinco livros da relação abaixo. Tramas como a de “A Metamorfose” e “A Morte de Ivan Ílitch” (1886), de Liev Tolstói (1828-1910), passaram ao cânone ocidental por sua destreza de esgrimir assuntos como a desumanização em suas mais variadas nuanças e o perecimento ao cabo de uma jornada reta, mas (ou por isso mesmo) diminuída. Virulência e requinte num casamento perfeito, em que nada sobra ou falta. 

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.