10 livros para quem está emocionalmente esgotado, mas ainda quer sentir alguma coisa

10 livros para quem está emocionalmente esgotado, mas ainda quer sentir alguma coisa

Estes são tempos de cansaço. A rotina acelerada, a pressão por produtividade, a solidão crescente ainda que em meio a conexões digitais que nunca param e os desafios da vida têm levado muitas pessoas a uma esgotadura intermitente. Esse estado, muitas vezes tido por apatia ou depressão, caracteriza-se por um vazio emocional: a pessoa sente que não consegue mais ajustar-se ao mundo ao seu redor, todavia, paradoxalmente, ainda deseje sentir, se comover, ter de volta sua humanidade. Nesse contexto, a literatura surge não apenas como um passatempo ou um exercício intelectual, mas como verdadeiro refúgio, uma ponte entre a intenção e a metamorfose, o plano das ideias e o chão duro da realidade. Para quem está no limite de suas forças, ela pode ser uma das últimas luzes ao fim de um longo túnel, um lugarzinho encantado onde é possível recobrar sentimentos esquecidos, ter outras vidas e, sem alarde, ir se curando.

Ler um romance, um poema, uma crônica pode oferecer a quem está com o coração partido uma experiência de religação com seus sentimentos mais profundos, ainda que de maneira indireta. Ao descreverem dores, alegrias, saudades ou esperanças, as palavras atuam como um bálsamo e um tônico para emoções confusas ou adormecidas. Reconhecendo-se na tristeza de um personagem, numa trama de amor impossível ou na perda de uma história trágica, o leitor encontra uma forma de validar seus próprios sentimentos, mesmo que não consiga nomeá-los. Ademais, a literatura oferece conforto sem exigir nada em contrapartida. Ao contrário das interações humanas, que sempre clamam por respostas, a leitura é silenciosa, íntima e autorreveladora. Chora-se diante de um livro sem que se saiba por que, ri-se sozinho de uma situação prosaica ou acha-se compreensão em figuras insólitas, que nunca hão de cruzar nosso caminho. Isso pode ser revigorante para alguém que nota que já não tem ânimo ou destreza para lidar com o mundo real.

A literatura nos ensina a viver outras vidas. Um livro pode nos transportar para o interior da mente de um jovem em crise, de uma mulher que vai perdendo o que de fato tem valor, de um homem em busca de redenção, de uma criança tentando compreender o inferno da vida dos adultos. Livros arrancam-nos de nós mesmos, lançando-nos num universo distante, sem regras, de pleno lirismo, no qual a dor jamais deixa de ter sua medida de graça. Nos dez títulos dessa lista, vibra o prazer da descoberta, da surpresa, do bom feitiço que não pode ser explicado. Joan Didion (1934-2021) é, a propósito, uma bruxa das mais poderosas no que toca a instigar em nós a capacidade que cada um tem de dobrar o sofrimento e tirar dele lições preciosas e indeléveis, como se verifica no ótimo “O Ano do Pensamento Mágico” (2005). Mulher das artes e, sobretudo um espírito livre, Didion absorvia mais do que os outros as vicissitudes de sua geração, presciências que colocou no papel em milhares de artigos, que se desdobraram em cerca de meia centena de publicações, e juntam-se a ela outros nove autores que, em maior ou menor grau, nos ensinam a resistir, perseverar, ver nossas misérias com os olhos da esperança, ilusória até, mas salvadora, voltados à eterna urgência do recomeço.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.