7 livros essenciais da literatura contemporânea espanhola

7 livros essenciais da literatura contemporânea espanhola

A literatura espanhola contemporânea, quando verdadeiramente inquieta, não se limita a repetir estruturas consagradas nem se satisfaz com o eco de glórias passadas. Ela se move em tensão — como se escrevesse atravessando uma névoa antiga. Há sempre um ruído de fundo, inaudível mas constante, que pode ser a memória da guerra civil, ou talvez o fardo residual de uma história que nunca foi plenamente elaborada. O que se percebe nesses romances é um pacto não verbal: não apressar o tempo, não evitar o silêncio, não ceder à tentação do conforto narrativo. Ler esses livros é, antes de qualquer coisa, sustentar um estado de vigília.

Talvez seja esse o traço mais comum entre os romances mais relevantes da Espanha de agora: eles recusam a função de entreter. São obras avessas à pressa e hostis ao consenso fácil. Avançam como quem pisa em terreno movediço, de costas, de lado, ou sem saber ao certo se é possível mesmo avançar. E ainda assim não são herméticos. Ao contrário: são claros na sua dor, minuciosos na sua arquitetura, e generosos no desconcerto. Usam a linguagem não para ordenar o mundo, mas para confrontá-lo. Para fissurá-lo. Como se escrever fosse menos um gesto de explicação do que um lento trabalho de escavação.

Há autores que, como Javier Marías, estendem suas frases como corredores intermináveis, onde o fim pode ser apenas um desvio da próxima vírgula. Outros, como Aixa de la Cruz ou Cristina Morales, preferem o corpo — seus traços, seus abismos, sua política. Escrevem rente à carne, como quem tenta mapear um território que já mudou de forma. Há livros que lidam com o peso histórico — guerras invisíveis, famílias esgarçadas, amores que falham pela metade. Outros preferem apenas escutar: o tempo, o vazio, a linguagem em exaustão.

O mais notável é que esses livros não ambicionam representar um “modelo espanhol” de literatura. Não há projeto unificador, nem manifesto. O que se intui é uma ética literária delicada: dizer apenas o que pode ser dito, sem trair aquilo que permanece fora da linguagem. Como se a Espanha — ao menos em sua literatura — tivesse aprendido que há experiências que não se tocam diretamente. Mas que podem ser contornadas com hesitação, com beleza, com uma inteligência à flor da dúvida.

Talvez só a dúvida — literária, ética, humana — seja capaz de sustentar alguma verdade que não se dissolva na manhã seguinte. E é essa dúvida, silenciosa e feroz, que confere a esses livros seu peso específico. Não por aquilo que afirmam, mas pelo que deixam entrever. Porque o que não se diz por completo às vezes é o que mais permanece.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.