7 livros fundamentais da literatura argentina contemporânea

7 livros fundamentais da literatura argentina contemporânea

À primeira vista, pode parecer que a literatura argentina contemporânea se distanciou de seu passado monumental — dos labirintos especulativos de Borges, das ruínas afetivas de Cortázar, das tormentas morais de Sabato. Mas não é ruptura: é recalibração. A literatura atual não abandonou sua herança — apenas decidiu germinar em um terreno mais instável, mais perto do corpo, mais atento às falhas da linguagem e às rachaduras do mundo.

Porque algo, de fato, mudou. Os livros que agora brotam em Buenos Aires, Rosário, Mendoza, ou em alguma esquina úmida do delta do Tigre, já não se ocupam de representar a nação — preferem desmontá-la. A Argentina literária de hoje não canta tangos heróicos: sussurra ruídos domésticos, delira sobre a cidade, tropeça entre o simbólico e o concreto. A política não está mais nas palavras de ordem, mas nos silêncios cortantes. O horror não vem de fora — emerge do que resta por dentro, como poeira fina que nem o tempo remove.

Há escritores que evocam fantasmas com a linguagem das vísceras. Outros, fazem humor com ossos — seco, corrosivo, essencial. Os corpos que habitam essas páginas não estão íntegros: tremem, ardem, desaparecem. E a linguagem segue o mesmo destino — hesita, desaba, se recompõe como quem anda no escuro. Isso — talvez — já baste para saber onde se pisa.

O desejo, se é que se pode nomear assim, parece ser o de fazer o leitor perder o chão. Desestabilizar o mundo, ainda que por poucas páginas. Não por perversidade, mas por honestidade. Porque escrever, agora, não é ornamentar o vazio — é expor suas costuras, suas tramas partidas.

Se há algo que une essas sete obras, é a recusa à anestesia. Cada uma carrega sua própria vertigem: uma fratura formal, um desvio de tom, uma insubordinação afetiva. Nenhuma delas tenta explicar a Argentina. Talvez porque prefiram perguntar o que ainda significa escrever — e respirar — quando o ar, desde o início, já chega rarefeito.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.