A leitura é uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento pessoal e coletivo. No entanto, o Brasil enfrenta desafios vultosos no que diz respeito ao hábito da leitura. Pesquisas indicam que grande parte da população brasileira não tem o costume de ler com frequência, e muitos sequer têm acesso a livros. As causas do problema são diversas e vão da precariedade do sistema educacional à falta de boas políticas públicas no que concerne ao tema. Nas escolas, por exemplo, muitas bibliotecas estão mal-equipadas ou obsoletas, o que mina o interesse dos alunos. Ademais, os professores, quase sempre sobrecarregados, enfrentam toda a sorte de contratempos para promover atividades de leitura efetivas. Soma-se a isso o fato de que muitos estudantes não veem a leitura como algo prazeroso, mas sim como uma obrigação, o que os afasta ainda mais. Para além do ambiente escolar, a situação continua a despertar preocupação. O alto preço dos livros e a ausência de livrarias em diversas cidades do interior do país condenam a população a uma espécie de apartheid literário. Em muitas regiões, bibliotecas públicas são escassas ou simplesmente não existem, impossibilitando a formação de novos leitores. A influência das redes sociais e de conteúdos de absorção rápida também contribui para que se torne escasso o tempo dedicado à leitura.
De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2020, realizada pelo Instituto Pró Livro em parceria com o Itaú Cultural, o país perdeu mais de 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019. A porcentagem de leitores caiu de 56% para 52% nesse período. Isso significa que 48% da população brasileira com mais de cinco anos não leu nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos três meses anteriores ao levantamento, o que representa cerca de 93 milhões de pessoas. A média anual de leitura no Brasil é de cinco livros por pessoa, sendo cerca de 2,5 lidos por inteiro e 2,4 parcialmente. A falta de tempo é uma das principais justificativas para o triste fenômeno. Cerca de 47% dos leitores afirmam não ter lido mais por essa razão. Quatro anos mais tarde, o Pró Livro constatou uma piora na amostragem, apontando que 53% dos entrevistados não leram sequer o trecho de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa.
O uso massivo da internet e das redes sociais vem se mostrando um adversário inclemente da leitura. Entre 2015 e 2019, o uso da internet no tempo livre aumentou de 47% para 66%, e o uso de aplicativos de mensagens como o WhatsApp passou de 43% para 62%. Os brasileiros passam cerca de 56% do seu dia produtivo diante da tela de smartphones e computadores, segundo a plataforma Electronics Hub, o que ajuda a explicar a indiferença pela leitura. Entre aqueles que admitem não gostar de ler, 28% afirmam que não leem porque encontram no ciberespaço tudo quanto precisam. O cenário fica mais melancólico ao saber-se que dois terços da população nunca conheceu ninguém que lhes recomendasse abrir um livro. Quatro em dez indivíduos disseram não saber ler, 19% leem muito devagar, 13% não têm concentração suficiente para ler e 9% não compreendem quase nada do que leem.
Desde 2001, o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) escrutina a situação da leitura e da interpretação de texto no Brasil. O analfabetismo funcional atingia cerca de 27% da população brasileira, de acordo com o censo de 2018, e em 2025 são 30% os analfabetos funcionais brasileiros, cidadãos com idade entre 15 e 64 anos que não conseguem entender textos mais complexos ou realizar operações matemáticas básicas. Outro levantamento, da Câmara Brasileira do Livro, revelou que 84% da população adulta brasileira não comprou um único livro no último ano, citando, novamente, os altos preços, a falta de livrarias e o corre-corre. A inexpressividade do percentual de leitores tem implicações severas e palpáveis para o desenvolvimento socioeducacional do país. A leitura é fundamental para que se elabore o pensamento crítico, a criatividade e a comunicação. A falta de leitura contribui para baixos índices de desempenho escolar e limitações no mercado de trabalho.
Para reverter essa realidade desoladora, é necessário uma força-tarefa que congregue o Executivo federal, as unidades da federação e os municípios, o terceiro setor e os homens e mulheres de boa vontade para transformar livros numa urgência e num prazer, acessível a todos. Investir em educação, infraestrutura e políticas voltadas ao estímulo à leitura é fundamental para o nascimento de um outro Brasil. Sempre é tempo.