Sabe aquela pergunta clássica que a gente faz em entrevista, roda de amigos ou quando tá tentando puxar assunto no Tinder literário? Pois é: “Qual o seu livro favorito?” É fácil de fazer, mas uma bomba de difícil resposta. Agora imagina lançar essa pergunta pra quem vive de escrever. A chance de travar o sistema do autor é altíssima. Tipo aquela tela azul do Windows que aparece quando você tenta abrir 58 abas do Chrome e ainda rodar o Spotify. Mas fomos lá, corajosos, e perguntamos mesmo assim.
A ideia aqui é simples: descobrir qual livro mora no coração de alguns escritores brasileiros. Aquela leitura que marcou, virou referência ou que eles gostariam de ter escrito só pra dizer “isso aqui é meu, tá?”. Tem de tudo: romance existencial, clássico russo que parece novela mexicana, e até umas surpresas que vão fazer você levantar a sobrancelha igual o Pikachu chocado. E a gente respeita. Porque gosto literário é tipo playlist de fim de relacionamento: cada um lida do seu jeito.
Claro que a gente queria perguntar pra uns 73 autores, fazer um ranking, colocar gráfico, porcentagem, talvez até uma simulação em Excel. Mas aí seria outro projeto. A Revista Bula escolheu cinco vozes da literatura brasileira contemporânea e pediu: “Fala aí, qual livro te pegou de jeito?”. O resultado tá aí embaixo, com direito a sinopse enxuta, sem spoiler, e sem firula. Só não prometemos que você não vá sair daqui com mais uma leitura pendente na estante (ou no carrinho da Amazon).

Escolhido por: Fernanda Young
Um escritor solitário passa seus dias refletindo sobre o sentido (ou a falta dele) da existência, enquanto caminha pelas ruas de uma cidade francesa. Conforme se aprofunda em suas angústias e observações cotidianas, ele passa a sentir uma espécie de mal-estar existencial — a tal “náusea” — diante da própria liberdade. O romance é um mergulho filosófico, onde pensamento e sensações se embaralham. Sartre usa a ficção para desenvolver as bases do existencialismo, propondo que a vida não tem um sentido dado. Cabe a cada um construí-lo. É denso, mas fascinante.

Escolhido por: Milton Hatoum
O livro reúne três narrativas independentes que exploram temas universais como fé, sacrifício e frustração humana. Em “Um Coração Simples”, acompanhamos a vida de Félicité, uma criada humilde que encontra consolo espiritual na simplicidade de seus afetos. “A Lenda de São Julião Hospitaleiro” reconta, em tom quase mítico, a história de um homem que comete um crime trágico e busca redenção através da caridade. Já em “Herodíade”, Flaubert revisita o episódio bíblico de Salomé e João Batista, fundindo erotismo, política e religião. Com estilo refinado e precisão narrativa, o autor constrói retratos profundos da condição humana.

Escolhido por: Luis Fernando Veríssimo
Ambientado nos anos 1920, o livro acompanha Nick Carraway, um jovem que se muda para Long Island e passa a observar o estilo de vida extravagante da elite americana. Seu vizinho, Jay Gatsby, é um milionário misterioso conhecido por dar festas grandiosas, mas obcecado por reconquistar Daisy Buchanan, seu antigo amor. A história se desenrola em meio a luxos, segredos e ilusões, revelando o vazio por trás do sonho americano. Fitzgerald constrói um retrato crítico da alta sociedade e das promessas falidas de ascensão social. Com narrativa elegante e melancólica, o livro tornou-se um clássico da literatura do século 20.

Escolhido por: Marçal Aquino
O romance acompanha Luís da Silva, um funcionário público e aspirante a escritor que vive em Maceió, sufocado pela miséria, pelo tédio e por uma intensa frustração existencial. À medida que se apaixona por Marina, filha de uma vizinha, suas obsessões se aprofundam, especialmente quando ela se envolve com um rival rico. Narrado em primeira pessoa, o livro mergulha no fluxo de consciência do protagonista, revelando sua paranoia, ressentimentos e colapso emocional. Com linguagem seca e introspectiva, Graciliano retrata uma mente em desequilíbrio e oferece uma crítica profunda à desigualdade social e ao desamparo humano.

Escolhido por: Conceição Evaristo
Escrito por uma adolescente judia entre 1942 e 1944, o diário registra os dois anos em que Anne Frank viveu escondida com a família em um anexo secreto, durante a ocupação nazista na Holanda. Ao longo dos relatos, ela descreve o cotidiano no esconderijo, seus medos, conflitos familiares, descobertas pessoais e o amadurecimento precoce diante da guerra. O texto revela a sensibilidade, inteligência e esperança de Anne, mesmo diante do terror. Mais do que um documento histórico, o livro é um testemunho íntimo sobre a resistência do espírito humano. Anne morreu em um campo de concentração pouco antes do fim da guerra.