Livros

Nada é mais grotesco do que a indiferença

Nada é mais grotesco do que a indiferença

Rabada, o novo livro de contos de Alessandro Araujo, chega como uma obra visceral, que expõe as feridas da vida urbana nas esquinas do centro de São Paulo. Em 18 contos curtos, o autor constrói um retrato fragmentado da realidade, onde violência e ternura se entrelaçam, revelando a luta pela sobrevivência e a busca por dignidade. Araujo, em sua terceira publicação, desenvolve uma linguagem ágil e cortante, desafiando o leitor a preencher os vazios da narrativa. A crítica social e o grotesco se fundem em histórias que provocam desconforto e reflexão.

O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar: como Mondrian e Mallarmé, entre dados e quadrados na reinvenção da leitura

O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar: como Mondrian e Mallarmé, entre dados e quadrados na reinvenção da leitura

Julio Cortázar, é um marco na literatura mundial, desafiando as convenções narrativas tradicionais com sua estrutura fragmentada e múltiplas possibilidades de leitura. Ao permitir que o leitor escolha diferentes sequências de capítulos, a obra se torna uma metáfora da própria existência humana, marcada pela incerteza e pela busca incessante por sentido. O protagonista, Horacio Oliveira, reflete essa inquietação ao oscilar entre o racional e o instintivo, o caos e a ordem, em uma jornada filosófica profunda. Cortázar utiliza o romance como um jogo, em que cada salto entre capítulos reflete uma tentativa de compreender a vida moderna. Assim, o leitor não apenas acompanha a trama, mas participa ativamente na construção de seus significados.

Raphael Montes: virem a página com frio na espinha, moçada, mas com a cabeça no lugar Foto / Victor Prataviera

Raphael Montes: virem a página com frio na espinha, moçada, mas com a cabeça no lugar

A literatura de terror tem o poder de nos levar a um lugar sombrio, onde nossas emoções mais profundas são testadas. No Brasil, esse gênero literário é menos explorado, mas Raphael Montes surge como uma exceção promissora. Seus livros, recheados de suspense psicológico e reviravoltas surpreendentes, têm conquistado um público cada vez maior. No entanto, suas obras também apresentam desafios que, ao serem superados, podem consolidar ainda mais seu nome no cenário literário. Em um panorama de poucas vozes no gênero, Montes busca seu espaço com intensidade e apelo midiático.

As imagens do cão e do pássaro no Grande Sertão: Veredas Foto / Acervo Fundo JGR

As imagens do cão e do pássaro no Grande Sertão: Veredas

João Guimarães Rosa tinha o costume de anotar tudo o que via, ouvia e percebia em suas conhecidas viagens pelo interior de Minas Gerais. O diplomata de carreira que morava longe do Brasil tirava o terno e grava para vestir as roupas de um vaqueiro. A cada item novo que surgiu pelo caminho, ele escreveu os detalhes em pequenas cadernetas ou cadernos de campo, à moda dos botânicos e antropólogos.

Extinção, de Thomas Bernhard: o negativismo como estética e existência

Extinção, de Thomas Bernhard: o negativismo como estética e existência

Thomas Bernhard mergulha o leitor em um universo marcado pelo colapso de qualquer esperança de redenção ou sentido. Através de uma prosa densa e repetitiva, o autor desmantela a estrutura da linguagem, transformando-a em um instrumento de autossabotagem. O romance acompanha Franz-Josef Murau, que, ao retornar à sua terra natal após a morte da família, enfrenta as sombras de um passado marcado por hipocrisia e decadência. Bernhard expõe, com brutalidade, a fragilidade da existência e o esgotamento do sentido nas palavras.