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O cavalo subiu no telhado, mas não enxergou um mundo melhor

O cavalo subiu no telhado, mas não enxergou um mundo melhor

Inundado por pensamentos capciosos, aguardo o resgate dos helicópteros do sono. Eu sou aquele cavalo caramelo sobre o telhado de uma casa inundada, de olhar taciturno, à espera de um caminho seco e seguro onde trotar. O pampa virou mar — penso, macambúzio, com ares de sertão só que não. Quando estiar, quando a água das chuvas finalmente escoar de dentro de mim pelos canos da história, o coração vai galopar diferente. A lama será apenas outra tétrica pegada no corolário das incongruências humanas.

É só um probleminha

É só um probleminha

Eu morro de medo de diminutivos. Aqui no Brasil, se o sujeito mete um “inho” ou “inha”, pode ter certeza de que alguém vai se dar mal. É coisa de brasileiro, que acha que se colocar diminutivo nas palavras, elas amansam, perdem a força e o problema está resolvido. Aqui não existe problemão, é tudo só um probleminha, e eu tenho pavor de probleminhas. Se é só um probleminha, para que fazer alguma coisa? Deixa rolar, que vai passar.

A bula do crime: o furto dos quadros do Masp

A bula do crime: o furto dos quadros do Masp

As obras foram levadas até um sobrado em Ferraz de Vasconcelos, uma cidade industrial construída ao redor de uma fábrica de lixas. Lá, permaneceram 19 dias até serem recuperados pela Polícia Civil de São Paulo. As pinturas não foram escolhidas ao acaso; elas eram avaliadas em 55 milhões de dólares e foram especificamente encomendadas por uma pessoa cuja identidade é até hoje desconhecida.

Uma carta para Thomas Mann, nos 100 anos de ‘A Montanha Mágica’

Uma carta para Thomas Mann, nos 100 anos de ‘A Montanha Mágica’

A primeira vez que soube de sua existência foi na leitura de uma entrevista de um cantor de rock, um certo Renato Russo. O senhor não teria como conhecê-lo — nem ele, nem o rock. Li a tal entrevista num banco da Praça Cagancha, em Montevidéu. Manhã fria de inverno uruguaio, céu cinzento como sempre, de um dia qualquer do ano de 1990. Havia uma banca de revistas e jornais (local hoje em extinção) que vendia publicações brasileiras, para gente perdida ali como eu.

Senna era melhor do que Piquet

Senna era melhor do que Piquet

Muitas pessoas têm paixão por carros. Outros, por polêmicas. Não é o meu caso. Na adolescência, depois de conseguir a CNH, guardava uma certa simpatia pelo carro da família, que eu lavava e encerava por horas a fio, nas tardes de sábado, na esperança de consegui-lo emprestado do meu velho para dar um role à noite e tentar a sorte com as garotas. Portanto, amava as garotas, não o carro. Os romances costumavam fracassar, mas, definitivamente, isso não era culpa do carro, um charmoso Caravan vermelho-bordô, com câmbio no volante. Então, nunca fui muito ligado em automóveis, a não ser pela necessidade premente de ir e vir — e de trocar o óleo, de vez em quando.