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O homem que escolheu o mínimo para viver e ousou fazer do silêncio sua última palavra

O homem que escolheu o mínimo para viver e ousou fazer do silêncio sua última palavra

Filho de libaneses, nascido em 1935 em Pindorama, ele atravessou São Paulo, estudou Direito e Filosofia, incendiou a literatura com duas obras essenciais e, no auge, retirou-se para a fazenda. Ali, trocou holofotes por estações, doou a Lagoa do Sino à Universidade Federal de São Carlos e viu nascer um campus entre pasto e biblioteca. Em 2016, recebeu o Prêmio Camões; no ano seguinte, discursou com dureza. Sua biografia é um arco de renúncia e permanência: do menino do interior ao guardião do silêncio. E sua obra continua queimando baixo.

Sócrates: quando a Democracia calçou chuteiras

Sócrates: quando a Democracia calçou chuteiras

Chamava-se Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Corria pouco e via antes. O estádio aprendia seu atraso e respirava. A bola aceitava a luz baixa daquele olhar. A infância guardou livros, quintais, rádio de pilha. Depois vieram jaleco, assembleias, gestos que escreveram uma palavra maior. No Estádio de Sarriá, beleza e ferida. Em Florença, um nome que não esfriou. Na última manhã, silêncio e punhos erguidos. Ficou a lição simples e rara: estender a mesa, desacelerar o minuto, devolver ar às pessoas. E lembrar: coragem sabe pedir cuidado.

A eternidade tem endereço. Adélia Prado: a poeta que ensinou o Brasil a ouvir Deus em voz baixa

A eternidade tem endereço. Adélia Prado: a poeta que ensinou o Brasil a ouvir Deus em voz baixa

De um quintal de Divinópolis molhado em 1950, quando perdeu a mãe e ganhou o primeiro verso, nasce uma voz que atravessa cozinhas, salas de aula, palcos e gabinetes. Professora por décadas, filósofa tardia, lida por Drummond, ela organiza o país com pão, oração e riso curto. Entre teatro, serviço público e prêmios maiores da língua, segue escrevendo com nitidez que consola e desinstala. Até o governador que a confundiu com locutora virou nota de rodapé. Esta é a história de atenção, coragem e esperança adulta em pleno Brasil contemporâneo.

Órfã aos 3. Viúva aos 34. Antes de Drummond, ela reinventou a poesia. Aos 63, o câncer silenciou sua voz

Órfã aos 3. Viúva aos 34. Antes de Drummond, ela reinventou a poesia. Aos 63, o câncer silenciou sua voz

Filha do Rio antigo, órfã cedo, criada pela avó açoriana, ela fez da discrição um modo de grandeza. Professora, jornalista, viajante atenta, atravessou a Primeira República, o Estado Novo e a redemocratização sem perder o compasso íntimo. Entre salas de aula e páginas, inventou uma disciplina afetiva para um país em construção. O casamento com o ilustrador Fernando Correia Dias rendeu parceria artística e uma dor que a vida não apagou. No fim, a doença estreitou os dias; o trabalho, nunca. Ficou a música baixa que organiza o mundo inteiro.

Quatro filhos sepultados. Salário curto. Pulmões cansados. Morte aos 36. A história do poeta que venceu o esquecimento

Quatro filhos sepultados. Salário curto. Pulmões cansados. Morte aos 36. A história do poeta que venceu o esquecimento

Filho de ex-escravizados, nascido em Desterro em 1861, Cruz e Sousa recebeu letras por tutela ambígua e aprendeu cedo que talento encontra portas com trancas. Recusado como promotor em Laguna por ser negro, migrou para o Rio, onde trabalhou como arquivista da Estrada de Ferro Central do Brasil, escreveu à noite, casou-se com Gavita e enterrou quatro filhos. A tuberculose o levou a Minas; morreu em Curral Novo, aos 36, em 19 de março de 1898.