Quando a justiça cabia em 96 páginas: a história esquecida dos bolsilivros de faroeste que o Brasil devorou em silêncio

Quando a justiça cabia em 96 páginas: a história esquecida dos bolsilivros de faroeste que o Brasil devorou em silêncio

No Brasil do século 20, cowboys de papel circularam por bancas, padarias e rodoviárias, levando faroestes impressos às mãos de milhões de leitores. Com capas sensacionalistas, enredos velozes e pseudônimos estrangeiros, os bolsilivros formaram um ecossistema editorial que resistiu por décadas. Eram baratos, descartáveis, e, justamente por isso, fundamentais. Este texto traça um retrato histórico e cultural da era dourada dos bolsilivros de faroeste, quando a justiça cabia em 96 páginas e a literatura se escondia sob nomes inventados e capas gritantes.

Se existe um faroeste que todos devem ver ao menos uma vez na vida, é a obra-prima de John Sturges — agora no Prime Video Divulgação / United Artists

Se existe um faroeste que todos devem ver ao menos uma vez na vida, é a obra-prima de John Sturges — agora no Prime Video

John Sturges (1910-1992) aproveita bem os ventos de liberdade que sopravam naquele distante 1960 para carregar nas tintas do discurso patriota, e o que se vê em “Sete Homens e um Destino” é mais um dos tantos shows de interpretação de um elenco no auge da potência física e da maturidade profissional. A adaptação dos roteiristas Walter Bernstein (1919-2021) e William Roberts (1913-1997) salta aos olhos justamente porque tem a sensibilidade de inserir todos os efeitos que transformaram essa história num clássico atemporal do cinema.

Acaba de estrear no Prime Video o grande vencedor do Oscar 2025 Divulgação / FilmNation Entertainment

Acaba de estrear no Prime Video o grande vencedor do Oscar 2025

A madrugada em Nova York não termina, apenas muda de cor. Entre o neon e o cinza, uma moça dança. Dança com o corpo treinado, mas o olhar de quem já aprendeu que não há salvação fora do palco. “Anora”, de Sean Baker, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2025, começa onde tantos outros terminam: no instante em que a promessa implode e resta o contorno fosco da sobrevivência. É uma narrativa que se desenha como fábula tardia, mas logo recusa a moral. O que sobra é ruído. Um vazio iluminado por dólar amassado e presente caro, como se o luxo fosse suficiente para esquecer o que se vendeu para recebê-lo.

Na Netflix, o thriller mais sombrio de Scorsese coloca De Niro e Nick Nolte em um confronto inesquecível Divulgação / Universal Pictures

Na Netflix, o thriller mais sombrio de Scorsese coloca De Niro e Nick Nolte em um confronto inesquecível

Martin Scorsese continua a ser o diretor mais personalista de Hollywood. Em seus filmes, sempre há espaço para a sofisticação, ainda que uma violência atávica tenha de eclodir, como se vê em “Cabo do Medo”, a história de um homem cujo desejo insano por reparação o consome, o alimenta e o destrói. Em sua versão para “Círculo do Medo” (1962), de J. Lee Thompson (1914-2002), Scorsese mescla ordem e caos, beleza e hediondez, obtendo uma história objetiva sem prejuízo do detalhe, da insinuação, o que prova que seu estilo, já primoroso, só fez ficar melhor.

Nem Shakespeare, nem Verne: o autor mais traduzido do mundo é uma mulher

Nem Shakespeare, nem Verne: o autor mais traduzido do mundo é uma mulher

De São Luís a Jacarta, de Montevidéu a Teerã, Agatha Christie ocupa um espaço silencioso nas estantes do mundo. A autora mais traduzida da história da literatura não se impõe com tratados filosóficos ou romances de formação, mas com crimes meticulosamente encenados, diálogos enxutos e promessas de revelação. Neste perfil, revisita-se a trajetória da escritora que sobreviveu a impérios, revisões editoriais, adaptações e reconfigurações culturais. Um fenômeno editorial e narrativo que continua, ainda hoje, a ser lido, traduzido e relido — em mais de cem idiomas, em mais de sete mil versões. Um enigma que o tempo ainda não resolveu.