Decepções

Decepções

Existe um bombom de marca famosa cujo recheio é uma suculenta gororoba chocolática, de lamber os beiços. Lançaram outro dia uma versão gigante dele. Achei que finalmente tinham entendido o consumidor: colheradas, excessos, alguma generosidade para o café da tarde. Comprei. Foi uma decepção. A casca era grande, sim. Mas, por dentro, havia apenas o velho silêncio das promessas infladas. Fiquei ali, bombom oco em uma mão, cara de ludibriado refletindo na colher empunhada pela outra.

Indicado a 2 Globos de Ouro, terror psicológico perturbador estreia na HBO Max Divulgação / New Line Cinema

Indicado a 2 Globos de Ouro, terror psicológico perturbador estreia na HBO Max

Terror de mistério em que uma sala de aula vira o epicentro de uma crise cívica: quase todos os alunos desaparecem na mesma madrugada. A professora, antes autoridade doméstica do cotidiano, vira suspeita, enquanto pais, polícia e escola brigam por versões e tentam estancar o pânico. O longa chega ao circuito comercial com ambição rara num momento em que o gênero se renova longe de franquias e volta ao subúrbio como teste moral, com um horário exato acionando a trama.

O caso das estranhas coincidências

O caso das estranhas coincidências

Na literatura brasileira, personagens célebres vivem ressuscitando em novas tramas. Brás Cubas, Quincas Borba e Capitu voltam à cena, desta vez sob a luz da investigação. Um escritor percebe, num anúncio editorial, a sombra inquietante de sua própria ideia: um detetive vitoriano sondando o suposto adultério de Capitu. Entre Paris, Rio e Londres, surgem Dupin, Humanitismo, vampiros e e-mails ignorados. Coincidência? Ou mais um mistério do mercado do livro? A recusa de uma editora acende dúvidas sobre autoria e destino.

5 filmes que estrearam na Netflix esta semana e realmente valem duas horas do seu tempo John Wilson / Netflix

5 filmes que estrearam na Netflix esta semana e realmente valem duas horas do seu tempo

Nem todo lançamento semanal pede atenção imediata. Entre estreias discretas e entradas de catálogo, a Netflix renova o cardápio e empurra ao assinante uma decisão que parece simples, mas consome tempo. A aposta aqui é outra: filmes recém-chegados que se sustentam pelo que mostram em cena, sem depender de barulho. A lista privilegia histórias fechadas, com ritmo e conflito claros, para caber no intervalo de uma noite comum. Há espaço para suspense, comédia e drama, em recortes distintos. São opções para ligar TV, sentar e chegar aos créditos sem pressa.

Adélia Prado faz 90 anos. A palavra é mais forte que o poder Foto / Nana Moraes

Adélia Prado faz 90 anos. A palavra é mais forte que o poder

Divinópolis, 1950. Chove. Os trilhos da Oeste de Minas reluzem quando o relâmpago abre a noite; o rádio chia notícias do pós-guerra, gols ainda por vir, promessas de um país em marcha. A missa segue em latim, o fogão a lenha dita o ritmo da cozinha, a cidade cresce entre metal e tecido, e uma casa respira trabalho, fé, fome de futuro. É o ano em que o Brasil perde uma Copa e ela perde a mãe. O pires tilinta, o orvalho pendura pérolas na couve, a cantiga antiga insiste. A menina escuta. Puxa o ar que falta e escreve. O verso inaugural rompe o silêncio e dá borda à dor.