Autor: Giancarlo Galdino

Ao longo de mais de duas décadas de carreira, Mike Flanagan tem se mostrado senhor absoluto de seu ofício, qual seja, o de encontrar o ponto cego de uma história, insistir nisso e apresentar um filme, no mínimo, original. “Hush: A Morte Ouve”, sensação no South by Southwest Film Festival, o SXSW, um apanhado do que o cinema produz no decorrer de um ano, levado a termo durante as primaveras em Austin, Texas, é o típico suspense de gato e rato, com uma casa misteriosa e isolada por cenário.

Se fosse possível classificar o cinema indiano com uma única palavra, essa palavra teria, sem dúvida, de evocar a ideia de ousadia. Como isso pode até ser possível, mas certamente não é desejável, há que se aludir também ao exagero, recurso de que diretores hindus se valem desde sempre a fim de falar de assuntos elementares, tão banais que escandalizam justamente por sua vulgaridade. É por aí que vai Sriram Raghavan com seu “Assassinato às Cegas”, thriller assumidamente insensato que junta deficiência física, música e perversão sexual numa crítica à hipocrisia humana.

Passadas mais de quatro décadas de sua morte, o trono de Alfred Hitchcock (1899-1980) continua vago — e pelo visto, tudo indica que vai continuar assim por muito tempo, talvez para sempre. É claro que muita gente tentou se equiparar ao Mestre do Suspense (muitos até chegaram bem perto), mas o que se tem ao se comparar os filmes que vieram depois com o que Hitchcock fez é só uma lembrança da produção do britânico, dono do timing exato, hábil em apresentar narrativas cheias de reviravoltas de modo a não cansar o espectador.

Depois de quase três décadas, um evento vergonhoso da história contemporânea da humanidade vem à tona de forma tão vigorosa quanto chocante. Em 1994, durante o genocídio dos tútsis em Ruanda, quatro mulheres de origens e crenças distintas se mantêm juntas no cômodo secreto e apertado da casa de uma delas, a fim de escapar da morte. Tomando por premissa uma imagem delirante à primeira apreciação, a diretora americana Alanna Brown usa 97 minutos para falar de barbárie, resistência e tolerância em “Árvores da Paz”, produção independente que une beleza e violência com sensibilidade.

Em muitas ocasiões, o cinema se presta a uma chance de alento — às vezes, a única —, para corações despedaçados. Aos poucos tristeza vai se tornando alegria, e, quiçá, com muita sorte se torne felicidade, deixando implícita a mensagem de que por mais negra e interminável que pareça a noite, dentro de algumas horas vai (ou, ao menos, pode) raiar um sol abrasador, que dilui todo resquício de melancolia. O diretor Rob Burnett se propõe a conduzir esse processo em “The Fundamentals of Caring”, levando seus personagens por uma jornada de autoconhecimento, cura e transformações quase milagrosas, tanto que nem parecem críveis.