Só se pode entender “Controle Absoluto”, de D.J. Caruso, à luz das grandes narrativas distópicas que foram deixando claras a força e a relevância das ideias que defendiam ao longo do século 20, inspiração cada vez mais óbvia para produções que também ousam emular essa urgência de se tratar de assuntos que passam desapercebidos diante de gente demasiado ocupada com suas miudezas.
O protagonista de “Security” quiçá tivesse tudo para ser um dos super-homens de Nietzsche, um daqueles tipos inquebrantáveis, firmes em sua missão de nunca lançar a toalha, nem depois da luta terminada e perdida, das luzes apagadas, do avanço da noite, do abandono da plateia. Os diretores Alain Desrochers e Les Weldon nunca dizem-nos ao certo que mal terrível desabou sobre seu herói — que as evidências apontam ser um anti-herói clássico —, porém qualquer um lhe enxerga as fraquezas que o fazem implorar por socorro, mesmo que o admitir nunca lhe passe pela cabeça perturbada.
Mais o homem sonha com a liberdade possível, mais o dito sistema lhe mostra que nem isso lhe cabe, que seu papel é sublimar as dores de sua débil humanidade e alimentar a máquina sem protestos, até que a morte lhe venha em socorro. Do roteiro de “Beckett”, do diretor Ferdinando Cito Filomarino e Kevin A. Rice, extraem-se as óbvias referências ao dramaturgo que empresta o sobrenome ao filme e a seu personagem central, um herói escrupuloso demais (e indefeso demais) num mundo piedoso (e humanista) de menos.
Andaç Haznedaroglu devota-se a preservar a tradição da delicadeza contundente do cinema turco. Com uma pergunta entre disparatada e de uma poesia quase infantil, Haznedaroglu insinua o que pretende com seu “Você Já Viu Vagalumes?”, memorabilia de uma mulher que ousou ter vontades e atreveu-se a realizá-las, sem medo das consequências, terríveis e injustas.
O ano de 2022 foi uma torrente de produções que aguçaram o senso crítico do espectador, primando por alargar as perspectivas e dar novo fôlego a opiniões as mais contraditórias, que se repelem entre si enquanto também se complementam, provando uma vez mais que a arte espelha a vida no que esta tem de densa, de bela, de única. Na nossa lista de hoje, temos cinco pérolas, ou ainda mais, cinco diamantes para você ter no seu descanso experiências preciosas.
