7 filmes de suspense na Netflix que você provavelmente não viu, mas deveria Diego Araya / Netflix

7 filmes de suspense na Netflix que você provavelmente não viu, mas deveria

Mistérios cercam a natureza humana desde o princípio dos tempos, numa dimensão muito anterior a esta que nos limita e nos condena. Ainda que dispuséssemos de toda a boa vontade da sorte — ao menos naquelas quadras da vida em que só ela tem o poder de remediar o grande mal que se nos abate —, nós é que, no fundo, sempre investimo-nos da condição de juízes, carrascos, e, por natural, vitimas de nossas próprias ações. Cabe-nos somente a nós bater o martelo e só nossas são a culpa ou a fortuna pelo destino que nos aguarda, por mais que as artes, a ciência, o pensamento filosófico, a religião ocupem-se de proporcionar ao homem todos os recursos quanto a minimizar suas inadequações mais perturbadoras e acender um farol em meio ao oceano do sem fim de quimeras vãs que nos iludem, arrastam-nos para o redemoinho de caos e falsas esperanças que nos alimentam e nos dão uma sensação de onipotência só para manifestar a força de seu veneno na primeira oportunidade e ao cabo de uma tortura lenta e silenciosa, sufocando-nos com a crença tola de, quem sabe um dia, fundear na praia da ventura, lugar mágico, diabólico e santo, onde dar-se-ia a transubstanciação do mal em bem.

Como se avessa ao estar no mundo, a própria felicidade se nos apresenta como um dos tantos perigos da vida. Presa dos mecanismos de repressão e autocensura dos quais nunca livra-se de todo; esforçando-se para contornar a dureza do real por meio da autoridade salvífica e intangível da fé; colocando à prova seus limites e seu afinco em tornar reais as mudanças, óbvias ou profundas, fáceis ou torturantes, de que considera-se digno; sempre flertando com a tragédia, à espreita, sedutora, nos arcos mais delgados do caminho; equilibrando-se sobre o fio tênue que aparta o caos do inferno: em todos os sete títulos que agrupamos na lista abaixo nota-se, de uma forma ou de outra, esse paradoxo invencível da alma humana, mediado pelas circunstâncias abstratas que fazem com que tudo pareça o delírio imanente que voeja sobre a existência de cada um em maior ou menor grau. No brasileiro “O Lobo Atrás da Porta” (2013), Fernando Coimbra destrincha um dos crimes mais abjetos da crônica policial carioca, justamente apontando para a fúria irracional da natureza do homem, tão persuasivamente vigorosa a ponto de fazer com que alguém confunda amor com ódio. Já “O Mistério do Farol” (2018) é o arrazoado do dinamarquês Kristoffer Nyholm sobre os motivos da vida ser tão pouco dadivosa para alguns, ferrando na audiência a dúvida que a consome. Do mais novo para o de lançamento mais atual e em ordem alfabética, “O Lobo Atrás da Porta”, “O Mistério do Farol” e outros cinco títulos constam do acervo da Netflix e representam essas histórias entre macabras e fascinantes, mas também didáticas, ansiando por ensinar-nos a nunca descuidar de nossas misérias.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.