Autor: Eberth Vêncio

O que você pensa de mim pode ser tudo verdade

O que você pensa de mim pode ser tudo verdade

Enquanto se apaixonava pelo hilário sujeito, a moça pensou o quanto seria mais justo e razoável que as pessoas bem humoradas pagassem menos impostos, e que fossem recebidas no céu por uma banda de arcanjos tocando pífaros, por tornarem as vidas dos outros mais leves e menos miseráveis. Era o caso daquele desconhecido que parecia conhecer os seus labirintos interiores como ninguém.

Meu coração é uma selva com animais inquietos

Meu coração é uma selva com animais inquietos

Abelhas diabéticas refugam flores. Andorinhas solitárias unem-se para fazer ao menos um verão. Prolifera a cada dia a revoada crepuscular dos joões-de-barro em prol de casas próprias nos galhos das paineiras. Por causa do atropelamento de coirmãos nas rodovias, tamanduás-bandeiras remanescentes balançam as caudas tristes a meio mastro. Formigas cabeçudas drogam-se com DDT e saem cantarolando pela Abbey Road: “Todos vivemos num sítio do pica-pau amarelo, sítio do pica-pau amarelo, sítio do pica-pau amarelo…”.

O deputado, a empreiteira e a assessora parlamentar sem lingerie (uma picante história dos bastidores do poder)

O deputado, a empreiteira e a assessora parlamentar sem lingerie (uma picante história dos bastidores do poder)

Isso é uma indecência. Estima-se que 3% do PIB evaporem em corrupção e propina. Embora os dados não sejam do cassino do IBGE, acredita-se que estejam subestimados, assim como as contas secretas e as hemorroidas (quem tem só confessa sob delação premiada). Estimados contribuintes, odeio admitir que não passamos de um bando de patriotas nada confiáveis. Eu, por exemplo, não confiaria uma vida, nem uma bolsa de colostomia aos seus cuidados. Vocês metem-me medo, camaradas. Não duvido que metessem as mãos em titica em busca de vantagens.

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Minha falta de fé anda irritante, eu reconheço. Tive um desentendimento com a minha mãe — e sei que isso é motivo mais que suficiente para que as minhas mãos sequem — por conta de um benzedor de cobras. Cria ou não cria naquilo? Não cri, pra variar. Enquanto eu ria, a gentil senhora fechou o cenho para me convencer que o sujeito convencia sim as serpentes a se escafederem do perímetro de uma gleba inteira, valendo-se apenas do instituto dos espasmos medonhos, trejeitos inimitáveis e muita, muita oração.

Vou atirar um avião contra os Montes Urais para provar que te amo

Vou atirar um avião contra os Montes Urais para provar que te amo

“A cidade é uma moça”. Partindo dessa premissa, aportou no Rio, onde nadou, nadou, nadou, nadou em busca de um amor, mas morreu na praia. Foi reanimado com falta de jeitinho pelos simpáticos cariocas praianos, com mate gelado na fuça e um sol a pino a esturricar o seu coração partido. Partiu, então, para São Paulo, terra das oportunidades e das atrocidades. O nome pomposo de santo apostólico romano não impediu que a louca metrópole o engolisse. E mais: ao contrário do que o poeta baiano cantou em Sampa, nada de diferente aconteceu no seu coração ao cruzar a Ipiranga e a Avenida São João.