Autor: Eberth Vêncio

Se eu fosse Deus arrancaria as costelas de Adão e faria um churrasco só para mulheres

Se eu fosse Deus arrancaria as costelas de Adão e faria um churrasco só para mulheres

“O que você faria se fosse Deus por um dia?” Juro. Escreveram essa pergunta dentro do banheiro de um bar. Balancei, abri as pernas feito um compasso, inclinei-me para frente, firmei o corpo mantendo as mãos espalmadas contra a parede fria, tentando buscar equilíbrio — sempre me considerei um homem excessivamente equilibrado e isso me irritava pra cacete. Enquanto urinava, eis as respostas que li no azulejo ensebado daquela latrina.

Para ser feliz acima da média

Para ser feliz acima da média

Do alto, eu e meu pássaro — por defeitos de acumular e querer ter, mas, também por teimosia de querer bem as criaturas, permitam que eu me aproprie nessa história de um ser tão colorido e livre — , avistamos prédios, pontes, casas, carros e a multidão formigando nas ruas. A mil pés, a cidade não parecia tão caótica quanto no trampo da esquina. Ela pulsava mais silenciosa que o meu coração.

Não adianta limpar os pés se vai pisar meu coração

Não adianta limpar os pés se vai pisar meu coração

Adão foi o primeiro. Mordeu-me a maçã do rosto. Então, quebrei-lhe as costelas que ainda restavam usando o mesmo fórceps com que fui extirpada do seu tórax de macho alfa-dominante. Por justa causa — eu reconheço — fomos expulsos do Paraíso (Motel Paraíso, 666 Jardim do Éden — Cidade do Pecado). Não seja besta. Numerologia não me assusta. Babaquice, sim. Começava ali a minha saga em busca de um amor que valesse a pena. Eu não me dispunha a ser uma espécie de mulher objeto, sujeita a homens abjetos que me colocassem num pedestal, numa estante ou para desfilar montada numa glande.

Com que sonha a geração Z?

Com que sonha a geração Z?

Diz-se que a geração Z é constituída pelos nascidos a partir dos anos 1990. Sua principal característica é a conectividade. São familiarizados à internet, aos smartphones e aparelhos afins, e não concebem a vida sem isso. Não. Essa turma não se interessa em sair para pescar. Eles são elétricos, inquietos, velozes, impacientes e se estressam noutro nível. São os nativos digitais. Podem fazer tudo pela tela de um telefone celular, inclusive ligar pra uma pessoa e dizer que sente saudades. Saudade: sentimento de gente fraca e desconectada? Com que sonha, afinal, a novíssima geração Z?

Que saudade do colo da minha mãe

Que saudade do colo da minha mãe

Quando ela disse que queria sumir, que queria se matar, eu fiquei muito preocupado. A cena era de fazer dó. Contorcia-se no chão em total descontrole, curvada, encolhida, parecia uma cadela friorenta, um farrapo humano com as mãos na cabeça, em posição fetal. Só que ela era uma mulher de trinta e poucos anos a implorar, nas entrelinhas e de forma miserável, o retorno imediato para a pasmaceira do claustro uterino materno. Achei aquele espetáculo deplorável além da conta, então, fiz de tudo para tentar acalmá-la. Era casada, tinha três filhos e trabalhava na empresa que cuidava da limpeza e manutenção da clínica. Foi a primeira vez que nos falamos pra valer. E nossa conversa doeu.