Autor: André J. Gomes

E afinal, você sabe de onde vem o amor?

E afinal, você sabe de onde vem o amor?

Amar vem de acreditar. É lá, no lugar seguro onde impera a confiança, que se formam as primeiras possibilidades amorosas. Lá são geradas as populações de borboletas que esvoaçam incômodas no ventre dos apaixonados, as noites memoráveis de lua e conversa, os pássaros e sons que nascem com o dia. Lá também, nos campos verdes da esperança, as paixões incendiárias refrescam seus ímpetos para aos poucos se transformar no amor que é entendimento, respeito, apreço, afeto e essas coisas que deixam a vida mais leve.

Sopro quente de ternura para um dia frio

Sopro quente de ternura para um dia frio

E então ele chegou de longe. Veio de um lugar onde não há contas e dívidas. Surgiu das dobras do mundo que fica para lá do fim dos parques, depois das últimas ruas asfaltadas, além das árvores mais velhas do chão. De lá, onde um anjo nos espera na porta, onde as mulheres e os homens e as crianças e os velhos dançam sorrindo velhas canções de amor e alegria, chegou o frio que tudo transforma.

Todo dia barulhento espera uma noite silenciosa

Todo dia barulhento espera uma noite silenciosa

Ah, minha mãe. Esse barulho todo me traz você aqui. Penso no seu silêncio no tumulto da nossa casa. Lembro do som da rua quieta enquanto esperava você no portão. Naquele tempo em que esperar por você era minha única angústia da vida. Aqui, no alvoroço desse negócio de viver tudo e dormir nada, de andar apertando os olhos para ouvir alguém entre tanto ruído, me falta você, minha mãe, chegando com a noite e a lua. Silenciosa em sua meia dúzia de palavras. Segura em suas interjeições.

Elogio da solidão que nos une e nos separa

Elogio da solidão que nos une e nos separa

Eu sou dessa gente que anda só. Não me pergunte por quê. Eu não sei responder e você vai achar que é indelicadeza minha, mas é nada senão a mais sincera incapacidade. Não consigo, não dá. Minha bicicleta não tem garupa, é veículo de um sozinho, descendo uma estradinha esburacada com um equilíbrio tão delicado que é preciso manter as duas mãos no guidão o tempo todo, sabe? Descobri que posso lhe dar uma delas agora e logo tenho de soltar. Não por nada.

Me dá sua mão. Vamos caminhar pela vida

Me dá sua mão. Vamos caminhar pela vida

Vamos ao mundo, ao tudo e ao nada. Vamos abrir uma empresa e falir juntos. Construir uma biblioteca pública! Vem, vamos pular as poças d’água, empurrar um pé depois do outro no contrafluxo da enxurrada, fuçar os lixos das casas, apertar as campainhas, fugir correndo! Vamos negar os princípios da física, revogar a lei da gravidade e voar por aí, sobre as cabeças rasteiras dos idiotas.