Autor: André J. Gomes

Todos somos vítimas do massacre no Charlie Hebdo

Todos somos vítimas do massacre no Charlie Hebdo

Estamos todos juntos. Profundamente ligados. A despeito daquilo em que nestas horas acreditam os assassinos e os canalhas, os indiferentes e os superficiais, os cegos voluntários e os simplesmente estúpidos, somos todos uma coisa só. E esta coisa tem sofrido faz tempo, padecido como agora, no choque de uma covardia impensável, na violência medonha de um novo ataque burro e cruel.

Gente vazia só enche o saco

Gente vazia só enche o saco

Tem palavra que é como cachorro de rua: vem com pulgas. Hoje apareceu uma por aqui abanando o rabo, a língua de fora, o olhar pedinte, e eu deixei entrar. Na verdade é uma expressão japonesa, dessas com significado grandioso, definitivo. “Ikigai”. Alguma coisa como ‘a razão de ser’ de cada um, motivo pelo qual você e eu nos levantamos todos os dias. Boa frase. Esses japoneses têm cada uma!

Os pessimistas que me perdoem. Mas se não for pra ser feliz qual é o sentido disso tudo?

Os pessimistas que me perdoem. Mas se não for pra ser feliz qual é o sentido disso tudo?

E quem sabe o Ano Novo nos seja justo e retribua cada voto de felicidade que nós tanto desejamos a ele? Quem sabe, na contagem regressiva, no instante que dá à vida um novo início, ele também nos celebre, festeje, comemore e nos faça listas de desejos generosos? Com justiça, ele também há de chegar pedindo água, afeto e leveza depois de horas no trânsito pesado rumo à praia. Vai fugir para as montanhas, ficar em casa com os seus ou tão sozinho como no fundo todos somos. Mas de qualquer sorte vai nos fazer a festa. Vai nos receber com os fogos e as luzes e cores do Réveillon.

Para entrarmos juntos no Ano Novo ali em frente

Para entrarmos juntos no Ano Novo ali em frente

Tem um Ano Novo ali em frente. Viu? Nós já podemos entrar. Mas vamos com calma. Todos nós cabemos lá. Tem espaço e tem tempo pra você e para mim e todo mundo. Os mesmos trezentos e sessenta e cinco dias que nos cabem estão lá, esperando. O Ano Novo ali em frente já deu as caras. Está no ponto, os motores ligados, os dias organizados em fila indiana, as estações aguardando sua vez de acontecer.

Para frente é que se ama

Para frente é que se ama

Um tropeção. É isso mesmo. O amor é um tropeção que a gente dá quando não espera. Acontece no susto. Já viu alguém tropeçar de propósito? Já viu um sujeito escolher “agora eu vou encher o pé naquela pedra ali e vai doer muito!”? Pode acontecer, mas será falso, ridiculamente fingido, forçado, irreal. Imagine a pessoa determinar “agora eu vou gostar daquele ali, isso, vou me apaixonar sem freio e depois vou amá-lo e ver no que dá”. É possível, mas cadê a graça? E o inesperado, o frio na barriga? Amor não se premedita. Simplesmente acontece. O amor é um tropeção!