A solidão nunca foi tão bela e devastadora — o filme do Prime Video que vai mudar sua relação com o silêncio Divulgação / Metro-Goldwyn-Mayer

A solidão nunca foi tão bela e devastadora — o filme do Prime Video que vai mudar sua relação com o silêncio

Ser refém das próprias turbulências internas e dos embates com um mundo que exige conformidade a normas e expectativas soa como uma condição inevitável da adolescência. Esse período da vida, um território de incertezas e fragilidades, frequentemente dá a sensação de que tudo conspira contra os anseios mais íntimos. Os astros seguem seu curso indiferente no firmamento, mas, para quem atravessa essa fase, parecem cúmplices de uma ironia cósmica que torna cada revés ainda mais doloroso.

Há uma sensação sufocante de isolamento, um anseio mudo por alguém que compreenda — qualquer pessoa, menos os pais. Essas figuras, que outrora foram referência, tornam-se obstáculos, vozes de um passado fossilizado, incapazes de decifrar as complexidades do presente. Ainda assim, uma orientação afetuosa pode amortecer dores que, se não tratadas, reverberam por anos e, em casos extremos, desmoronam famílias inteiras sem aviso.

Richard Tanne mergulha nesses conflitos em “A Química que Há Entre Nós”, uma narrativa sobre crescimento e descobertas, nem sempre ocorrendo de forma simultânea. Sua adaptação do romance “Chemical Hearts” (2016), de Krystal Sutherland, examina o poder e a dificuldade das escolhas que se impõem na juventude. Henry Page, um jovem comum de 17 anos, vê-se diante de decisões que desafiam sua maturidade, e, apesar de tudo, ele encontra maneiras de lidar com o peso que carrega.

Determinado a seguir sua vocação como escritor, Henry ainda não alcançou qualquer reconhecimento significativo. Um novo caminho se abre quando o diretor da escola, Kem Sharma, vivido por Adhir Kalyan, convida-o para assumir a editoria-chefe do jornal estudantil. Há, no entanto, uma condição: dividir a função com Grace Town, aluna recém-chegada, de intelecto impressionante, mas que guarda cicatrizes de um passado obscuro e se locomove com a ajuda de uma bengala.

A relação entre Henry e Grace é construída com minúcia por Tanne, explorando simbolismos e gestos discretos, como o momento em que ela lê para ele o Soneto de Amor 17, de Pablo Neruda, apropriando-se das palavras do poeta sem hesitação. Mais adiante, Henry, tão envolto na presença de Grace, perde o ônibus, iniciando um ritual peculiar entre os dois: ele a acompanha até sua casa e, em troca, ela lhe oferece uma carona — desde que ele mesmo dirija. Pequenos detalhes que, sem que percebam, os conduzem a algo inesperado.

Austin Abrams e Lili Reinhart transitam entre os altos e baixos dos protagonistas, traduzindo as intenções do diretor sem revelar de imediato as verdades que seus personagens ocultam. A história não segue a fórmula convencional de um romance edificante; Grace não surge para moldar Henry ou oferecer-lhe respostas, mas ele se recusa a enxergar de outra forma. No fim, seus sonhos eram mais ambiciosos do que a realidade permitia. Ainda assim, quem pode julgá-lo por isso?

Filme: A Química que Há Entre Nós
Diretor: Richard Tanne
Ano: 2020
Gênero: Coming-of-age/Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★