Nenhum filme da Netflix vai te fazer rir tanto: 104 minutos de risadas garantidas para o seu fim de semana Bonnie Osborne / CBS

Nenhum filme da Netflix vai te fazer rir tanto: 104 minutos de risadas garantidas para o seu fim de semana

Tudo em “O Diário de uma Virgem” recende a uma nostalgia saborosa, sem tanto artificialismo, com os créditos iniciais surgindo em fitas cassete, CDs, calendários. O filme de Maggie Carey se passa em 1993, ano em que pirralhos como este crítico tinham seu primeiro contato relevante com o cinema por intermédio de Steven Spielberg e seu inesquecível “Jurassic Park”, o segundo dos grandes campeões de audiência do diretor, trajetória iniciada em 1975 com o avassalador “Tubarão”. Spielberg decerto sabia que no mundo todo crianças haveriam de desejar, mesmo no sonho mais delirante, visitar seu complexo fictício de feras pré-históricas, e da mesma forma deve ter pensado Carey quanto a inspirar no público essa vontade de mover-se de um tempo para outro. Os nerds de suas respectivas turmas hão de se identificar com Brandy Klark, a garota mais inteligente da escola, tanto por seu histórico de presidente do clube de matemática e editora do jornal dos alunos como pela pouquíssima experiência romântica, problema que ela, felizmente, resolve à moda antiga. Mas de um jeito muito atabalhoado. 

Não se consegue dimensionar quanto de caos existe no texto da diretora-roteirista, sempre puxando a ação para Brandy, uma garota especial atordoada com as pressões das amigas para ser “normal”: beber, fumar maconha e, claro, perder a virgindade. Demora, mas ela acaba empenhando-se na missão, dando algumas provas de sua fibra moral ao contestar com elegância a invencível jequice da então nova primeira-dama Hillary Clinton e dizer no discurso de formatura do ensino médio que jovens podem sim, ser sábios — na verdade, entre todas aquela gente, ela era a única, e acaba não sustentando a pose. Suas amigas, Fiona e Wendy, vividas por Alia Shawkat e Sarah Steele, parecem muito felizes em subempregos em cujas folgas enchem a cara e curtem a vida adoidado, então talvez haja mesmo algo de muito estranho com ela. Quando se é de Boise, a capital de Idaho, no noroeste americano, essa sensação de desajuste às avessas é tanto mais aterradora.

Uma vez que envereda pelo caminho do besteirol escatológico, Carey vê-se impelida a enfiar o pé na jaca. Depois de uma festa em que exageram numa beberagem verde e meio suspeita, Brandy e companhia passam a comentar a respeito de modalidades sexuais heterodoxas como o saquinho de chá e outras já mais assimiladas pelo público leigo, até o momento em que Fiona e Wendy decidem que é chegada a hora da amiga ter afinal sua prova dos noves. Aparecem os homens, e então “O Diário de uma Virgem” torna-se incomodamente próximo dos longas da franquia “American Pie” (1999-2012) ou, para manter a referência cronológica, “Porky’s” (1981-1985). Malgrado já se saiba onde tudo isso vai dar, Aubrey Plaza defende sua personagem até o fim, saindo-se bem pior que em outras produções que exploram motes similares, a exemplo de “Best Sellers – A Última Turnê” (2021), dirigido por Lina Roessler — para não mencionar o formidável “Meu Eu do Futuro” (2024), de Megan Park.

Filme: O Diário de uma Virgem
Diretor: Maggie Carey
Ano: 2013
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.