A belíssima lição de vida, que vai te motivar para 2025, na Netflix Dale Robinette / Studiocanal

A belíssima lição de vida, que vai te motivar para 2025, na Netflix

Stephen Chbosky retorna ao tema dos desafios emocionais e da superação pessoal em “Extraordinário” (2017), adaptando para as telas o consagrado romance de R.J. Palacio. Conhecido por seu trabalho em “As Vantagens de Ser Invisível” (2012), Chbosky oferece aqui um olhar sensível e envolvente sobre August Pullman, um garoto cuja singularidade o coloca no centro de uma narrativa sobre aceitação, resiliência e conexões humanas.

Auggie, interpretado com profundidade por Jacob Tremblay, nasceu com uma condição rara que altera a estrutura óssea e a aparência facial, exigindo múltiplas cirurgias desde os primeiros dias de vida. Desde então, vive protegido pelo universo particular que sua família construiu para ele, mas também isolado das experiências comuns da infância. A decisão de sua mãe, Isabel, vivida por Julia Roberts, de matriculá-lo em uma escola convencional marca o ponto de virada. A narrativa então explora o impacto dessa mudança não apenas para Auggie, mas para todos ao seu redor.

Chbosky captura com maestria as camadas emocionais dessa transição. Isabel, que sacrificou sua carreira de ilustradora e estudos acadêmicos para cuidar do filho, é uma figura de coragem e devoção, interpretada com ternura e firmeza por Roberts. Em contrapartida, Nate, o pai, interpretado por Owen Wilson, oferece um contraponto leve e descontraído às tensões familiares. A dinâmica entre os dois é natural e convincente, destacando-se mesmo nos momentos de discordância. Já a irmã mais velha, Olivia (Izabela Vidovic), lida com sentimentos ambíguos — a dor de viver à sombra do irmão e a saudade de sua avó recentemente falecida (uma breve, mas simbólica aparição de Sônia Braga).

A história de Auggie também ecoa em outras narrativas, como a de Roy Lee Dennis, retratado em “Marcas do Destino” (1985), dirigido por Peter Bogdanovich. Contudo, enquanto Dennis enfrentava a dura realidade da displasia craniodiafisária no contexto libertário dos anos 1970, Auggie navega pelo universo contemporâneo das redes sociais e do bullying escolar. O diretor Tushman (Mandy Patinkin) surge como um aliado fundamental na luta contra a intolerância, enquanto os colegas de Auggie oscilam entre a crueldade infantil e a generosidade redentora.

Tremblay entrega uma performance notável, dando a Auggie um equilíbrio delicado entre vulnerabilidade e coragem. Suas expressões refletem a luta interna de quem busca pertencer sem perder a essência. Chbosky constrói sua narrativa com uma combinação de momentos dolorosos e esperançosos, mantendo o espectador imerso nas complexidades do protagonista. A direção evita o melodrama, optando por uma abordagem mais contida, que amplifica o impacto emocional dos eventos.

“Extraordinário” não é apenas sobre um garoto enfrentando as adversidades da vida, mas também sobre as relações que o definem. A amizade, muitas vezes frágil e cheia de nuances, ganha destaque, assim como o papel crucial da família no fortalecimento emocional. A obra se alinha a outros filmes que exploram a jornada de autoaceitação, como “O Quarto de Jack” (2015), sem perder sua identidade própria.

Se há uma crítica à ser feita, talvez seja o fato de que o foco na perspectiva de Auggie poderia ser mais profundo. Embora as subtramas enriqueçam o enredo, em certos momentos desviam a atenção do cerne da história. Ainda assim, o filme emociona e inspira, oferecendo uma reflexão poderosa sobre empatia, diversidade e a capacidade humana de transformar desafios em aprendizados significativos. Em sua essência, “Extraordinário” convida o espectador a enxergar além das aparências e a reconhecer a beleza nas diferenças.

Filme: Extraordinário
Diretor: Stephen Chbosky
Ano: 2017
Gênero: Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★