A teoria sobre a fragilidade das conexões humanas proposta por Zygmunt Bauman (1925-2017) ganha contornos de comédia romântica nas mãos de Jennifer Kaytin Robinson. No longa, a cineasta explora a jornada de um trio de amigas jovens e confiantes, em um momento de celebração de conquistas profissionais após enfrentarem desafios árduos. Com leveza, mas não sem intensidade, elas se jogam de cabeça nas encruzilhadas da vida, entre surpresas e escolhas.
Inspirada pelo êxito de “Sweet/Vicious” (2016), exibida pela MTV, Robinson mergulha na transição para a vida adulta, desmistificando visões idealizadas. Ela recorre aos clichês típicos do gênero, mas os esgota com engenhosidade, revelando um ciclo contínuo de encerramentos e recomeços que ecoa o pensamento baumaniano. Embora o filósofo permaneça fora da cena, sua tese sobre os ciclos humanos permeia a narrativa com sutileza e profundidade.
No enredo, uma noite em Nova York, repleta de possibilidades, transforma-se em um divisor de águas para Jenny (Gina Rodríguez). Após um show de ASAP Rocky, ela e Nate (LaKeith Stanfield) comemoram, mas a revelação de que ela recebeu uma proposta dos sonhos — ser crítica musical na icônica revista “Rolling Stone” em São Francisco — muda tudo. As horas seguintes são uma despedida disfarçada de celebração, ao lado das amigas Blair (Brittany Snow) e Erin (DeWanda Wise), culminando em uma manhã que anuncia o fim de uma fase.
Robinson, então, muda o foco para a amizade feminina, deixando Nate em segundo plano, um recurso que subestima o talento de Stanfield. Jenny emerge como o centro da história, refletindo os dilemas de crescer sem perder o viço da juventude. A protagonista carrega traços de um espírito livre, em constante conflito entre responsabilidade e desejo.
Apesar disso, o filme lida com certa instabilidade ao tentar equilibrar tons cômicos e melancólicos. A nova crítica musical, mesmo sem Nate — uma figura que antes atuava como uma âncora emocional —, continua se entregando às festas e excessos, agora movida por uma liberdade quase desordenada. Esse paradoxo faz o roteiro hesitar entre a maturidade da vida adulta e os impulsos da juventude.
No entanto, a diretora compensa essas oscilações com toques técnicos precisos. A trilha sonora, cuidadosamente escolhida, inclui uma belíssima versão de “Moon River” (1961), cantada por Audrey Hepburn, que ecoa momentos mais felizes de Jenny e Nate. Flashbacks revelam a fase inicial do relacionamento, quando ambos eram mais ingênuos e plenos. A mensagem final, embalada por essas memórias, sugere que a solidão da vida adulta também ensina a abraçar a tristeza como parte do crescimento.
★★★★★★★★★★