Yi Seong-gye (1335–1408), mais conhecido como o rei Taejo, fundador da dinastia Joseon, foi um visionário que trouxe à Coreia uma era de transformações profundas. Entusiasta da filosofia confucionista adaptada às particularidades de seu povo, ele construiu um legado que perduraria por cinco séculos, a partir de 1392, marcando a história coreana com avanços culturais, científicos e econômicos. Durante esse período, a dinastia Joseon não apenas consolidou uma sociedade próspera, mas também alimentou o desejo por um progresso mais igualitário, enfrentando as rígidas hierarquias sociais de sua época.
Nesse contexto de contrastes e lutas, emerge a figura de Jeong Yeo-rip (1546–1589), um ousado reformista que desafiou os alicerces confucionistas. Convicto de que a igualdade deveria prevalecer sobre a servidão, Yeo-rip criou a “Grande Unidade”, uma comunidade utópica onde nobres e escravos compartilhavam alimentos e treinavam artes marciais juntos. Sua ideologia revolucionária, entretanto, encontrou oposição feroz, culminando em seu trágico suicídio aos 43 anos, acusado de traição durante o reinado de Seon-jo (1552–1608). O fim de Yeo-rip não encerrou sua influência; ao contrário, perpetuou sua memória como um símbolo de resistência e sonho em tempos de opressão.
Essa complexa página da história coreana é recriada com intensidade em “Guerra e Revolta”, dirigido por Kim Sang-man. Com roteiro coassinado por Park Chan-wook e Shin Chul, o filme é uma imersão épica que combina rigor histórico e uma narrativa repleta de dinamismo. As batalhas grandiosas, envolvendo milhares de combatentes, entrelaçam-se com histórias pessoais que exploram liberdade, honra e sacrifício. Entre os protagonistas, destaca-se Jong-ryeo, filho de um conselheiro do rei, cuja vida muda ao conhecer Cheon Yeong, um escravo designado para sofrer punições em seu lugar. Apesar das condições desiguais que os unem, os dois constroem uma amizade marcada pela inocência e pela dor, especialmente após Cheon Yeong vivenciar a brutalidade do mundo ao encontrar o pai enforcado.
O filme também mergulha na complexidade emocional de Jong-ryeo e sua interação com outros personagens centrais, como Gang Dong-won. Embora a obra seja exuberante em sua escala e repleta de nuances narrativas, é na relação íntima entre os protagonistas que reside sua força maior. Esse vínculo, moldado por solidariedade e fragilidade, confere profundidade à trama, transformando uma saga belicista em um retrato sensível sobre dignidade e patriotismo.
Ao abordar a vida de sonhadores em tempos hostis, “Guerra e Revolta” não deixa dúvidas: heróis de carne e osso nascem não apenas das lutas épicas, mas também das batalhas silenciosas travadas no íntimo. Assim, Kim Sang-man entrega uma obra que, embora grandiosa, ressoa com a universalidade de seus temas, lembrando-nos que, mesmo em um mundo adverso, os sonhos podem moldar lendas e inspirar gerações.
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