“Irmã de Neve”, dirigido por Cecilie A. Mosli, pode parecer à primeira vista mais uma aventura natalina destinada ao público infantil. No entanto, essa obra vai muito além do previsível. Longe de ser uma narrativa leve e superficial, o filme, baseado no livro homônimo de Maja Lunde, mergulha em um drama sensível e profundo, explorando a conexão improvável entre duas crianças com passados marcados por traumas e segredos.
Julian, um menino simples, vive em uma casa pequena, onde a atmosfera é tão silenciosa quanto pesada. As noites são repetitivas: bolinho de peixe servido em jantares quase mudos. A tristeza que permeia cada canto da casa não é apenas uma questão de dificuldades financeiras; ela é resultado de uma perda devastadora. A morte de sua irmã mais velha, cuja causa permanece envolta em mistério, mergulhou a família em um luto paralisante, ao ponto de sequer montarem uma árvore de Natal, pois a alegria da data parece agora inalcançável.
Mesmo imerso nessa tristeza, Julian tenta seguir em frente. Ele encontra uma espécie de refúgio na natação noturna, e é ali, à beira da piscina, que conhece Hedvig. Alegre, falante e com cabelos ruivos que combinam com seu entusiasmo, Hedvig oferece sua amizade sem pedir nada em troca. Juntos, caminham pelas ruas iluminadas e decoradas para o Natal, onde o espírito festivo parece contagiar a todos — menos Julian. Para ele, as luzes e os enfeites não passam de lembranças dolorosas da ausência de sua irmã.
A casa de Hedvig é o oposto da de Julian: grande, iluminada, cheia de vida e decorada para o Natal em cada detalhe. Porém, por trás dessa fachada festiva, há algo que ela esconde. Enquanto Julian se abre, falando sobre seus medos e a dor da perda, Hedvig guarda um segredo que se recusa a compartilhar. A disparidade entre suas realidades gera tensões na amizade, especialmente quando Julian sente que Hedvig, com sua vida aparentemente perfeita, não consegue compreender o peso que ele carrega.
Hedvig tenta incansavelmente reacender em Julian o espírito natalino, incentivando-o a ver a vida com mais otimismo. Mas a jornada é complexa, pois, apesar de sua alegria contagiante, ela carrega suas próprias dores. O segredo que guarda parece ser uma barreira entre eles, colocando à prova a confiança e a cumplicidade que construíram.
Evitar spoilers aqui é crucial, mas vale dizer que “Irmã de Neve” se revela uma história muito mais profunda e simbólica do que seu início sugere. A amizade entre Julian e Hedvig não resolve magicamente todos os seus problemas, mas lhes dá força para encontrar novos caminhos, antes encobertos pela dor. O filme nos lembra que, mesmo em meio ao sofrimento, é possível redescobrir a esperança através das conexões humanas.
★★★★★★★★★★