Ficção científica que levou 18 milhões de espectadores aos cinemas está na Netflix Divulgação / Twentieth Century Fox

Ficção científica que levou 18 milhões de espectadores aos cinemas está na Netflix

“O Predador” é uma sátira afiada dos filmes de ação, terror e fantasia que dominaram os anos 1970 e 1980, explorando a fragilidade da Terra diante de alienígenas violentos, cuja sede de vingança parece ter sido cultivada ao longo de milênios, sem uma explicação clara. Sob a direção de Shane Black, a narrativa resgata os elementos nostálgicos que ainda cativam quem viveu e testemunhou essa época, seja através dos cinemas ou da televisão, em meio a conflitos geopolíticos que refletiam a tensão global, como a Guerra do Vietnã (1955-1975).

Naquela época, os americanos, a milhares de quilômetros dos campos de batalha, mal compreendiam as razões para os combates no Sudeste Asiático, mas havia uma convicção coletiva de que a exploração de outros mundos era urgente e talvez possível com a cooperação dos extraterrestres que lá habitavam. Esse sentimento é o que mantém o fascínio intacto por mais de cinquenta anos, e o roteiro elaborado por Black, Fred Dekker e Jim Thomas captura essa essência com precisão.

Esse paradoxo enigmático, repleto de reviravoltas que garantem a dinâmica da narrativa, coloca em evidência a necessidade de adotar uma postura defensiva e, por vezes, ofensiva contra os “outros” — aqueles que desconhecemos e tememos. Diante das adversidades que se ampliam no cenário sombrio em que a trama se desenrola, surge o instinto de sobrevivência, expondo um lado monstruoso e primitivo que nos domina, mesmo que, no fundo, busque nos proteger das crueldades externas e de nossa própria corrupção, fruto de emoções reprimidas, orgulho ferido, abandono e arrependimento.

A trama se desenrola quando um jovem, sem querer, reativa a ameaça dos Predadores ao planeta. Para combater essa nova investida, um grupo de ex-soldados se une a uma cientista, estabelecendo um ponto de partida ideal para o diretor explorar o retorno desses seres, agora mais perigosos após fundirem seu DNA com o de outras espécies. As sequências de ação, que são intensas e visualmente impactantes, são equilibradas com o toque de humor característico de Black.

No entanto, “O Predador” acaba oscilando entre a credibilidade visceral e um tom que beira o farsesco, devido a erros de continuidade e escolhas de roteiro que diminuem a força de um elenco talentoso, liderado por Boyd Holbrook como Quinn McKenna. Em última instância, a produção reflete a natureza falível de qualquer empreendimento criativo, lembrando que, mesmo na ficção, as imperfeições são inevitáveis.


Filme: O Predador
Direção: Shane Black
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Ficção científica
Nota: 7/10