A humanidade tem convivido com substâncias que, ao darem uma falsa sensação de poder, lentamente destroem a saúde e arrastam o indivíduo para um abismo ético crescente. Em “Synchronic”, o debate sobre o impacto devastador das drogas é quase tímido, e ainda assim, os diretores Aaron Moorhead e Justin Benson encontram uma maneira de suavizar possíveis desconfortos ao abordar o tema através de uma perspectiva de autoconhecimento ilusório e cura fictícia de traumas.
A promessa de alívio para um cotidiano sufocante leva ao colapso físico e mental, culminando em uma morte que pode ser rápida ou prolongada, sem margem para a ciência agir de forma eficaz. No entanto, essa conclusão aparece de maneira forçada, como uma solução artificial para resolver o dilema central: o sofrimento de dois amigos que, por razões distintas, estão imersos em suas próprias infelicidades.
O roteiro de Benson é engenhoso ao enganar o espectador. Uma cena que sugere um romance iminente entre Travis e Leah rapidamente se transforma em um ritual para o consumo de Synchronic, uma droga sintética que distorce a percepção da realidade de forma muito mais intensa do que outras substâncias já conhecidas. Como esperado, as coisas fogem do controle, e os paramédicos Dennis e Steve aparecem removendo um cadáver.
A partir daí, a trama explora a rotina dos personagens, vividos por Jamie Dornan e Anthony Mackie, enquanto enfrentam o dia a dia exaustivo em Nova Orleans, lidando com acidentes e overdoses. A imagem de “olho da serpente” alude, de maneira sutil, à epidemia de drogas na cidade, agravada após o furacão Katrina. Denube reflete o desejo de mudança em uma cidade e em um homem à deriva, mas, apesar disso, a narrativa transmite uma sensação de estagnação, como uma viagem sem destino claro, com um final que insinua que talvez Denube nunca se reencontre de fato.
Filme: Synchronic
Direção: Aaron Moorhead e Justin Benson
Ano: 2019
Gêneros: Ficção científica/Suspense
Nota: 7/10