O terrorismo islâmico não se originou com o devastador ataque de 11 de setembro de 2001, que derrubou as icônicas torres gêmeas do World Trade Center, símbolo do poder capitalista dos Estados Unidos. O ataque, liderado pelo saudita Osama bin Laden (1957-2011), que antes fora aliado dos americanos, culminou na morte do líder terrorista após uma década de perseguições. Sua captura, enfim, ocorreu em uma emboscada no Paquistão, liderada por forças especiais dos EUA, após várias tentativas frustradas.
O impacto dessa ação brutal reverberou pelo mundo, encorajando grupos terroristas que se valem de interpretações religiosas distorcidas para justificar seus atos de violência e ódio. Um exemplo chocante foi o ataque de nove terroristas, em 26 de novembro de 2008, que aterrorizaram Mumbai. Após assassinarem civis na estação ferroviária de Chhatrapati Shivaji, os criminosos avançaram sobre o luxuoso hotel Taj Mahal, criando um cenário de caos e terror.
O filme “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, dirigido pelo australiano Anthony Maras, retrata com precisão o massacre que vitimou 167 pessoas, entre hóspedes e funcionários, além dos próprios terroristas, recrutados pela Al-Qaeda. O atentado também deixou 327 feridos. A narrativa começa com uma breve introdução dos terroristas chegando a Mumbai pelo poluído rio Ulhas, antes de o filme mergulhar em cenas de violência intensa. A fotografia, assinada por Nick Remy Matthews, contribui de forma significativa para a atmosfera sombria e densa, tornando cada momento de brutalidade ainda mais visceral.
Com essa obra, Maras se une a cineastas como Paul Greengrass e Kathryn Bigelow na tarefa de documentar os horrores do terrorismo moderno. Em filmes como “Voo United 93” (2006) e “22 de Julho” (2018), de Greengrass, ou “Guerra ao Terror” (2008) e “A Hora Mais Escura” (2012), de Bigelow, há um esforço para retratar a crueldade inerente a essas tragédias, mas sempre com um olhar para os atos heroicos que emergem em meio ao caos. Da mesma forma, Maras homenageia aqueles que, no Taj Mahal, arriscaram suas vidas para proteger os reféns, apesar da incerteza de sobreviverem para contar a história.
Dentro do Taj Mahal, duas figuras centrais destacam-se: o garçom Arjun e o chef Hemant Oberoi. Antes separados pela hierarquia e por rivalidades profissionais, eles unem-se instintivamente, deixando de lado qualquer animosidade para salvar o máximo de vidas possível. Dev Patel e Anupam Kher personificam com maestria essa união improvável, capturando a essência da humanidade que emerge em momentos de crise. Em meio à violência, surgem raros momentos de respiro emocional, que conferem ao filme uma poesia inesperada, reforçando a ideia de que, em situações extremas, a sobrevivência só é possível através da cooperação.
O longa de Maras equilibra-se entre a brutalidade do conflito e os laços humanos que surgem, propondo uma reflexão poderosa ao espectador: o que você faria em uma situação semelhante? Essa indagação ecoa muito além da tela, instigando uma reflexão profunda sobre a fragilidade da vida diante do terror, encerrando o filme com um questionamento que permanece na mente do público mesmo após o último frame.
Filme: Atentado ao Hotel Taj Mahal
Direção: Anthony Maras
Ano: 2018
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10