Todos parecem entender que, ao final de períodos marcados por dificuldades e sacrifícios, inicia-se uma nova fase de alívio. No entanto, logo depois, surgem novamente os dias de incerteza, medo e frustrações acumuladas, reativando o ciclo de infortúnios. A vida, para quem escolhe enfrentar seus desafios diários e sustentar-se com o fruto do próprio esforço, torna-se uma jornada ininterrupta e desafiadora, na qual não há como simplesmente se retirar. Viver, portanto, é como entrar em um circo de horrores, semelhante às antigas arenas romanas, onde gladiadores lutavam sob uma fachada de heroísmo, mesmo que esse heroísmo fosse forçado, sem justificativa plausível. A luta constante, por si só, não permite a genuinidade de um heroísmo verdadeiro, pois exige um espírito de combate inquebrantável, que deve ser mantido indefinidamente, muitas vezes sem razão. O cenário atual, com suas dificuldades extremas, assemelha-se a uma arena onde todos nós, de forma involuntária, somos empurrados para lutar pela sobrevivência. E, infelizmente, é a soma de nossas decisões, ou a ausência delas, que pode nos conduzir a um futuro ainda mais incerto que o mais nebuloso dos passados.
Previsões sobre o futuro, por sua vez, são fundamentadas em hipóteses amplas e frequentemente inverossímeis. Não temos como antecipar, com exatidão, as condições em que viveremos em cenários de escassez extrema, onde até mesmo elementos essenciais, como água e oxigênio, poderiam ser comprometidos. A premissa de “Exército do Amanhã”, do diretor Ng Yuen-fai, se alicerça justamente nessa ideia de um futuro sombrio, onde a sobrevivência da humanidade está em xeque. Embora o filme tenha seus méritos, a repetição de temas já exaustivamente explorados em outras obras cinematográficas acaba por reduzir seu impacto. Por mais que a excelência dos efeitos especiais traga uma estética impecável, a originalidade se perde diante de argumentos já vistos anteriormente.
O enredo, assinado por Lau Ho-leung e Mak Tin-shu, ecoa produções como “Impacto Profundo” (1998), de Mimi Leder, “Independence Day” (1996), de Roland Emmerich, e até o icônico “Robocop” (1987), de Paul Verhoeven. Embora essas obras reflitam a persistente preocupação humana com a destruição do planeta, essa apreensão parece exagerada. A Terra, mesmo após sofrer impactos devastadores, eventualmente se recuperaria em um intervalo de milhões ou milhares de anos, voltando a seu estado original — desde que a humanidade não interfira novamente. Curiosamente, pouco se fala sobre o impacto ambiental causado pela produção de filmes como “Exército do Amanhã” ou “Avatar” (2009), de James Cameron. Este último, em particular, retorna ao debate com “Avatar: O Caminho da Água” (2022), mais uma vez abordando questões ambientais, embora de forma um tanto hipócrita.
A influência de “Avatar” é evidente no trabalho de Ng Yuen-fai, que sequer tenta disfarçar a referência a Pandora, o mundo fictício criado por Cameron. Essa apropriação evidencia um problema recorrente no cinema: a dependência de grandes orçamentos. No entanto, mesmo com recursos financeiros consideráveis, “Exército do Amanhã” ainda não consegue superar a barreira da inovação. No fim das contas, por mais que a batalha pelo sucesso no cinema envolva grandes somas de dinheiro, o verdadeiro prejuízo acaba sendo compartilhado por todos os envolvidos.
Filme: Exército do Amanhã
Direção: Ng Yuen-fai
Ano: 2022
Gêneros: Ficção científica/Ação/Drama
Nota: 7/10