Obra-prima de Denis Villeneuve que levou 150 milhões aos cinemas e faturou 3,5 bilhões de reais, na HBO Max Divulgação / Warner Bros.

Obra-prima de Denis Villeneuve que levou 150 milhões aos cinemas e faturou 3,5 bilhões de reais, na HBO Max

Denis Villeneuve parece empenhado em desafiar suas próprias habilidades a cada novo projeto. Ao abraçar a missão de revitalizar “Duna”, a épica saga de ficção científica escrita por Frank Herbert entre 1965 e 1985, Villeneuve optou por desviar-se das excentricidades que David Lynch trouxe para a primeira adaptação cinematográfica dos livros, lançada em 1984. Em “Duna: Parte Um” (2021), o diretor ofereceu um espetáculo de luz e som que aproveita ao máximo as possibilidades tecnológicas do século 21, criando uma obra que se destaca tanto pela sua grandiosidade quanto pela fidelidade à visão original de Herbert.

Com “Duna: Parte Dois”, Villeneuve retoma a jornada de Paul Atreides, um jovem herdeiro cuja transformação física e espiritual se intensifica em um cenário cada vez mais caótico. Este novo capítulo aprofunda a exploração das complexidades de Paul, apresentando-o como um protagonista amadurecido, capaz de personificar o equilíbrio entre vulnerabilidade e poder.

O roteiro, coescrito por Villeneuve e Jon Spaihts, concentra-se nas forças e fragilidades do personagem, que, apesar de sua natureza compassiva e idealista, se vê envolvido em uma luta brutal por justiça em um mundo dominado pela barbárie. Timothée Chalamet entrega uma performance impressionante, alternando entre cenas de intensa ação física e momentos de profunda introspecção, demonstrando o crescimento de seu personagem e solidificando sua própria carreira.

O público é novamente transportado para Arrakis, um planeta árido com uma atmosfera avermelhada que evoca a paisagem de Marte. Este mundo hostil, cuja única riqueza são as especiarias, é guardado por gigantescos vermes de areia que se tornam violentos ao menor sinal de perturbação. Os habitantes de Arrakis são oprimidos por conquistadores implacáveis que exploram seus recursos naturais, sem que ninguém jamais tenha ousado desafiá-los. Até que surge Paul Atreides, que assume o papel de messias e lidera uma rebelião contra os tiranos que governam com mão de ferro, tentando libertar os Fremen, o povo nativo.

Villeneuve revisita cenas de “Duna: Parte Um”, incluindo o funeral de Jamis, um líder tribal interpretado por Babs Olusanmokun, que é derrotado por Paul em um duelo mortal. Essa vitória marca uma virada significativa na narrativa, com Paul tomando o lugar do adversário caído, para surpresa de sua mãe, Jessica. Rebecca Ferguson, que interpreta Jessica, também explora novas dimensões de sua personagem, antes uma soberana poderosa, agora enfrentando as adversidades de uma vida nômade ao lado de seu filho. A narrativa se aprofunda no estoicismo e nas práticas místicas que se tornam centrais para a sobrevivência de ambos, destacando ainda mais a importância das especiarias, substâncias que amplificam a percepção e são ferozmente protegidas pelos vermes subterrâneos de Arrakis.

No clímax do filme, “Duna: Parte Dois” reconecta-se com o material original de Herbert, explorando as provocações filosóficas e políticas que permeiam a obra. A cinematografia de Greig Fraser, premiado com o Oscar pela fotografia de “Duna: Parte Um”, continua a impressionar, especialmente nas cenas em preto e branco de uma batalha liderada pelo vilão Feyd-Rautha, interpretado de forma surpreendentemente ameaçadora por Austin Butler. Ele supera as expectativas, contrastando com a atuação exagerada de Javier Bardem como Stilgar. Neste ponto da trama, Paul Atreides começa a perceber que seu destino está longe de melhorar, preparando o terreno para os eventos ainda mais sombrios de “Duna: Parte Três”.


Filme: Duna: Parte Dois
Direção: Denis Villeneuve 
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Aventura/Drama 
Nota: 9/10