Dinheiro movimenta o mundo, essa é uma verdade universalmente conhecida. No entanto, não é menos previsível considerar que uma pequena fração da riqueza transacionada em um único dia na Bolsa de Valores de Nova York poderia alimentar milhares de pessoas nas comunidades carentes do Zimbábue, um dos países mais pobres do planeta, por semanas a fio. Agora, imagine um programa de televisão que ofereça dicas valiosas tanto para pequenos quanto para grandes investidores, sem os floreios e jargões pseudocientíficos comuns em Wall Street.
Um programa que talvez seja até mais confiável do que os analistas meticulosamente vestidos da alta finança, e que consegue alcançar milhões de telespectadores diariamente. Esse programa teria como alvo o investidor comum, aquele que, frustrado, vê suas economias se desintegrarem da noite para o dia após investir cada centavo em ações que despencam abruptamente.
Mas, afinal, quem é o responsável por isso? Jodie Foster, em “Jogo do Dinheiro”, explora essa questão, seguindo a trilha de um vilão onipresente na vida de todos os seres humanos, desde o nascimento até a morte. O filme expõe os segredos sombrios de um ambiente corrompido pelo poder do dinheiro. Com um elenco estelar, a obra lembra, em certa medida, “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese, embora a semelhança pare por aí. Aqui, o humor é mais contido e o tom mais intelectual, trazendo à tona um lado muito mais profundo e perturbador do que o frenesi hedonista apresentado por Scorsese.
Adam Smith, o filósofo e economista escocês que viveu no século 18, foi um dos grandes defensores da economia de mercado e da livre concorrência. Seu trabalho se destacou durante o Século das Luzes, um período marcado por avanços notáveis nas artes, ciências e economia. Smith foi um verdadeiro visionário, sua compreensão do mundo ultrapassava os limites de sua época. Ele elaborou uma das teorias mais abrangentes sobre o liberalismo econômico, uma doutrina que formou a base do capitalismo moderno.
Para Smith, a interferência do Estado na economia deveria ser mínima. Ele acreditava que a liberdade individual, incluindo a liberdade dos consumidores de escolherem as empresas com as quais desejam fazer negócios, era essencial. Assim, os consumidores optariam pelas empresas que oferecessem os melhores produtos ou serviços, promovendo um processo de autoaperfeiçoamento nas corporações, uma espécie de seleção natural adaptada ao mercado.
Essa competição é vital para a sobrevivência das próprias empresas, independentemente do seu tamanho. Para as grandes corporações, essa disputa é frequentemente uma verdadeira batalha, com resultados drásticos e imprevisíveis. Em “Jogo do Dinheiro”, o roteiro habilidosamente escrito por Alan DiFiore, Jim Kouf e Jamie Linden explora esses temas com um rigor notável. Os diálogos afiados e o humor inteligente preparam o público para as várias reviravoltas que surgem após uma longa introdução.
O personagem principal, Lee Gates, é uma figura que parece uma paródia do fundador da Microsoft, um apresentador carismático do programa fictício “Mad Money”. Gates é capaz de convencer qualquer pessoa a comprar qualquer coisa, uma habilidade que faz com que anunciantes e empresas financeiras se aglomerem para ganhar visibilidade em seu programa. Sua influência é tal que até mesmo bancos, fundos imobiliários e agências de classificação de risco parecem não precisar de tanto esforço para manipular investidores menos experientes.
Entre os que caem nas armadilhas do mercado está Kyle Budwell, um jovem de 24 anos que perdeu todas as suas economias — cerca de sessenta mil dólares — após seguir uma dica ruim dada por Gates. Quando Jodie Foster revela as complexidades do personagem de Gates, é a vez de Jack O’Connell, no papel de Kyle, roubar a cena.
O’Connell, que já havia mostrado seu talento em “Invencível”, dirigido por Angelina Jolie, e mais tarde em “Terra Selvagem”, dirigido por Max Winkler, entrega uma performance intensa. Ao seu lado, Julia Roberts brilha como Patty Fenn, a produtora do programa, e Caitríona Balfe deixa uma marca significativa com sua interpretação de Diane Lester, a relações-públicas de Walt Camby, o CEO inescrupuloso interpretado por Dominic West.
Jodie Foster conduz esses personagens de forma a criar um clímax inesperado, onde o espectador se vê torcendo por um justiceiro improvável, um homem comum que, impulsionado pela raiva e pelo desespero, acredita estar preparado para enfrentar sozinho as forças impiedosas do capitalismo. Contudo, o filme deixa claro: mesmo o mais obstinado dos indivíduos encontra dificuldades insuperáveis ao tentar desafiar um sistema tão vasto e implacável.
Filme: Jogo do Dinheiro
Direção: Jodie Foster
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Crime
Nota: 9/10