O cinema, uma das expressões artísticas mais diversas e abrangentes, sempre cativou o público não apenas pelas histórias contadas nas telas, mas também pelos bastidores que revelam um universo complexo e intrigante. Há mais de sete décadas, essa curiosidade pelos segredos por trás das câmeras se consolidou, especialmente entre aqueles que se dedicam a explorar as nuances do que acontece além da tela.
Desde os tempos em que as câmeras eram equipamentos robustos e os cenários eram limitados a duas dimensões, figuras femininas eram elevadas ao status de ícones inalcançáveis, galãs escapavam de perigos enquanto enfrentavam dramas, e duelos épicos entre caubóis e indígenas ocorriam em busca de riquezas ocultas sob terras áridas.
O filme “Babilônia” evoca claramente as memórias de “Cantando na Chuva” (1952), o clássico dirigido por Gene Kelly e Stanley Donen, que aborda a transição desafiadora de dois atores do cinema mudo para a era do som. Contudo, Damien Chazelle se esforça para imprimir sua visão única ao longo dos extensos 190 minutos do filme, utilizando um elenco coeso que confere um brilho inesperado a cenas que poderiam parecer familiares. O olhar atento do espectador é constantemente recompensado, sem perder o foco.
“Babilônia”, na Netflix, é marcado por uma boa dose de caos, refletindo a própria natureza do cinema. Logo na sequência de abertura, Manny Torres, um americano de ascendência mexicana, tenta conduzir um elefante pelas colinas até Beverly Hills, onde um evento extravagante está sendo organizado por um dos magnatas da Hollywood pré-Era de Ouro. Chazelle não faz concessões em seu roteiro, o que fica claro em uma cena inicialmente chocante, mas que acaba se alinhando com o contexto do filme, oferecendo insights tanto explícitos quanto sutis.
No coração de Hollywood, as estrelas mais luminosas desfilam sem pudor, e Nellie LaRoy, aspirante a estrela, tenta adentrar nesse mundo glamouroso fingindo ser a atriz Billie Dove. Com uma dose de ousadia, Nellie, que vive de pequenos trabalhos e atuações em vaudevilles duvidosos, consegue entrar na festa graças à ajuda de Manny.
A partir desse ponto, os personagens de Diego Calva e Margot Robbie se entrelaçam na narrativa, juntos ou separados, mas sempre contribuindo para desenvolver a história. Eles introduzem outros personagens que reforçam a ideia central de Chazelle: a chegada do som no cinema representava uma ameaça crescente, embora não para todos. Nellie, com sua beleza e sagacidade, parece imune a essa mudança, enquanto Jack Conrad, interpretado por Brad Pitt, enfrenta um futuro incerto.
Jack Conrad, o galã encarnado por Pitt, personifica perfeitamente a mistura de autoconfiança e vulnerabilidade que sempre acompanhou as grandes estrelas do cinema. Se há um século o som era visto como o inimigo, hoje, são as armadilhas da fama instantânea, impulsionada por influenciadores digitais, que ameaçam os verdadeiros talentos, forçando-os a reconsiderar suas carreiras. Em tempos modernos, os ícones do cinema como Clara Bow e Cary Grant são cada vez mais raros.
Filme: Babilônia
Direção: Damien Chazelle
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 10