Analisando o número de vezes que uma pessoa se apaixonou ao longo da vida, podemos aprender muito sobre ela. A paixão, quando profunda, dá lugar ao amor, que floresce mesmo nos terrenos mais áridos, como uma rosa desabrochando após um longo período de seca. Se o amor é verdadeiro, surgem diversas formas de expressões afetuosas, incluindo cartas, mesmo na era da comunicação instantânea e das emoções fugazes.
O filme “A Última Carta de Amor”, na Netflix, dirigido por Augustine Frizzell e baseado no best-seller de Jojo Moyes, utiliza uma troca de cartas românticas como base para contar uma história que, embora previsível em certos momentos, é sempre elegante e substancial. Frizzell consegue captar a essência melancólica de uma mulher perdida em si mesma, mas que não se resigna a viver uma vida de desespero e alienação.
O enredo alterna entre passado e presente, explorando a vida de duas mulheres distintas: uma no presente e outra no passado. A interação entre essas duas figuras revela gradualmente segredos ocultos e traz à tona uma visão de mundo transformada. O roteiro, escrito por Moyes, Esta Spalding e Nick Payne, acompanha uma socialite dos anos 1960 que, após um acidente, luta para recuperar sua memória, e Ellie Haworth, uma jornalista contemporânea que encontra uma carta de amor perdida enquanto trabalha no necrológico de um editor recentemente falecido. Ellie, interpretada por Felicity Jones, inicialmente não se empolga com a descoberta, mas sua curiosidade cresce à medida que se envolve na história por trás da carta.
Essa carta perdida serve como um gancho para transportar o público de volta aos anos 1960, onde Jennifer Stirling, uma mulher casada, se corresponde com alguém chamado Bota. Apesar de parecer uma esposa devotada, Jennifer troca cartas apaixonadas com um amante desconhecido, revelando um desejo profundo de renovação e paixão.
Embora o filme nunca esclareça totalmente o motivo do acidente de Jennifer, a diretora compensa possíveis lacunas investindo na estética visual do filme. Shailene Woodley brilha como Jennifer, especialmente nas elegantes roupas inspiradas em Jacqueline Kennedy, desenhadas por Anna Robbins. Callum Turner interpreta Anthony O’Hare, um jornalista estrangeiro que preenche o vazio emocional de Jennifer, cada vez mais afetada pela ausência de seu marido, Lawrence, interpretado por Joe Alwyn.
A história do núcleo dos anos 1960 aborda temas de carência emocional e sexual, comuns na literatura de aeroporto, especialmente em romances voltados para mulheres. Essas temáticas, exploradas de forma sublime em “Longe do Paraíso” (2002) de Todd Haynes, são revisitadas por Frizzell, que leva a trama para direções mais envolventes. A relação entre Ellie e Rory, o arquivista interpretado por Nabhaan Rizwan, desenvolve-se de forma crescente e apaixonada, confirmando que o verdadeiro tema central de “A Última Carta de Amor” é o romance, em sua forma mais lírica e pura.
Filme: A Última Carta de Amor
Direção: Augustine Frizzell
Ano: 2021
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10