Ficção científica que acaba de chegar à Netflix é diferente de tudo que você já viu Divulgação / Netflix

Ficção científica que acaba de chegar à Netflix é diferente de tudo que você já viu

A inteligência artificial, com sua presença inescapável e abrangente, estabeleceu-se em todos os aspectos da vida cotidiana, provocando uma mistura de desconforto e entusiasmo. A questão mais pertinente, porém, não é apenas sobre a IA estar presente, mas sobre até que ponto ela pode atender às profundas necessidades emocionais e humanas. Embora a tecnologia ofereça vastas possibilidades, a questão da elegância, do respeito e dos aspectos mais sutis das interações humanas continua sendo uma preocupação fundamental.

A invasão da privacidade e os riscos associados a comportamentos como calúnia e difamação são apenas algumas das consequências desses avanços. Para os artistas, e especialmente para cineastas asiáticos, as ferramentas tecnológicas representam um terreno fértil para a criatividade. O diretor sul-coreano Kim Tae-yong explora essas questões em “Wonderland”, uma ficção científica carregada de lirismo, onde um dispositivo tecnológico tem o poder de mitigar a dor da separação entre mundos distintos, levantando a questão crucial: será que isso realmente vale a pena?

O filme aborda a perda e o luto através de várias perspectivas, começando com o retrato de dois personagens centrais que foram separados por circunstâncias inevitáveis. Bai Li, uma arqueóloga que está à beira da morte, usa um serviço de comunicação oferecido pela empresa Wonderland para manter algum contato com sua filha, apesar de sua condição terminal.

Ao mesmo tempo, o enredo segue Jung-in, que está em constante comunicação com Tae-ju, seu namorado, que acredita estar em uma missão espacial, mas na verdade está em coma irreversível em um hospital. Kim Tae-yong e a corroteirista Min Ye-ji exploram essas narrativas de forma íntima e comovente, retratando a vida de Bai Li e o sofrimento de Jung-in com detalhes que revelam o impacto da separação e da perda.

O diretor utiliza imagens sugestivas e um estilo de filmagem que reflete a profundidade emocional de seus personagens. Bai Li, por exemplo, é mostrada em meio a um trabalho arqueológico, simbolizando sua busca por um vínculo com o passado e com sua filha, enquanto Jung-in é retratada em uma relação distante e desoladora com Tae-ju. Tang Wei, Bae Suzy e Park Bo-gum oferecem interpretações poderosas e complexas, capturando as emoções conflitantes de seus personagens e criando uma sensação de que estão vivendo em dimensões paralelas.

A pergunta central do filme é se a inteligência artificial pode realmente substituir a profundidade e a autenticidade das experiências humanas e do amor. Embora o filme não ofereça uma resposta definitiva, ele sugere que a tecnologia, por mais avançada que seja, não pode preencher o vazio deixado pela perda e pela morte. A dúvida sobre a eficácia da IA em lidar com esses aspectos complexos e profundos da experiência humana é levantada de forma provocativa e reflexiva.

“Wonderland”, na Netflix, questiona se, ao tentar mitigar a dor e a separação com tecnologia avançada, estamos realmente resolvendo as questões fundamentais da vida ou apenas criando uma ilusão de conforto. Em última análise, o filme nos faz refletir sobre o valor da experiência humana genuína e se a tecnologia pode ou deve substituir o que é essencialmente irremediável.


Filme: Wonderland
Direção: Kim Tae-yong
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Romance
Nota: 9/10