Fenômeno de audiência na Netflix, filme de ação italiano foi visto por mais de 56 milhões de espectadores Emanuela Scarpa / Netflix

Fenômeno de audiência na Netflix, filme de ação italiano foi visto por mais de 56 milhões de espectadores

Não é fácil encarar um heroísmo autêntico em um cenário onde se vive um combate contínuo, prolongado indefinidamente ao longo de uma existência sem rumo claro e sem base sólida, desconsiderada pelos poderosos após uma análise superficial.

Essa situação de dificuldades extremas, que nos transforma em lutadores mesmo sem querermos, em uma arena onde a sobrevivência é uma questão de vida ou morte, ainda persiste hoje. Nossas ações, medidas e desmedidas, determinam nosso futuro, que provavelmente será menos agradável que o presente já difícil que enfrentamos.

Existem grupos sociais tão bem estabelecidos que acabam por despertar a inveja das instituições formais de poder, sem comprometer conceitos como honra, coragem, lealdade e compromisso. A máfia, muito mais que uma vasta rede de negócios com filiais pelo mundo, com suas particularidades e modos de operação, se apresenta como uma visão de mundo, onde a autonomia individual é absoluta. Todos são livres para fazer o que desejam com suas vidas, e o Estado e seus representantes legais não devem interferir. Contudo, a aparente defesa dos direitos humanos e boas intenções desmoronam quando confrontadas com o número de vítimas do abuso de drogas e os lucros das grandes organizações criminosas que prosperam no narcotráfico, uma ferida aberta em diversas sociedades.

O novo longa de Cosimo Gomez, “Meu Nome é Vingança”, traz um título pomposo e grandiloquente. À primeira vista, parece ser um épico sobre a raiva contida de um homem que, de repente, percebe as más escolhas que fez ao longo de uma vida de misérias disfarçadas. No entanto, à medida que a história avança, Gomez revela sua verdadeira intenção: despojar o protagonista de qualquer glamour, optando por evitar efeitos especiais ou enquadramentos sofisticados e focando na complexidade psicológica do personagem principal.

O roteiro, co-escrito por Andrea Nobile e Sandrone Dazieri, adapta-se à personalidade esquizofrênica de Santo Romeo, o mafioso interpretado por Alessandro Gassman. Este não é o primeiro filme a brincar com o nome Santo para um criminoso, como visto em “Nada Santo” (2019), de Renato de Maria, que também aborda a queda de um mafioso. Em “Meu Nome é Vingança”, o diretor desenvolve o conflito de maneira a fazer o público simpatizar, ou pelo menos entender, Santo, graças à interpretação intensa de Alessandro, filho do renomado ator Vittorio Gassman.

A trama pode parecer dispersa devido à insistência de Gomez em mostrar a transformação de Santo. No entanto, a entrada de Ginevra Francesconi como Sofia, a filha que descobre o passado sombrio do pai e não tem compaixão por ele após um crime que muda suas vidas para sempre, revitaliza a narrativa. Sofia salva o filme de uma possível verborragia, trazendo uma perspectiva fresca e intensa à história.

Cosimo Gomez evita o uso excessivo de artifícios cinematográficos, preferindo uma abordagem mais crua e direta. A história de Santo Romeo é contada com uma sinceridade brutal, mostrando a complexidade do protagonista e suas lutas internas. O diretor se concentra na deterioração psicológica do personagem principal, criando uma atmosfera de tensão crescente que mantém o público engajado.

“Meu Nome é Vingança” é uma reflexão sobre as escolhas e consequências na vida de um homem atormentado por seu passado. Alessandro Gassman entrega uma performance memorável, capturando a essência de um mafioso dividido entre sua natureza violenta e a tentativa de redenção. A presença de Ginevra Francesconi adiciona uma camada de profundidade à história, mostrando a relação complicada entre pai e filha em um contexto de crime e traição.

O filme de Cosimo Gomez é uma exploração do lado sombrio da natureza humana, um estudo sobre a luta pela sobrevivência em um mundo implacável. A direção cuidadosa e o desempenho convincente dos atores fazem de “Meu Nome é Vingança”, na Netflix, uma obra envolvente e poderosa, que convida o público a refletir sobre os limites da redenção e a complexidade das relações humanas.


Filme: Meu Nome é Vingança
Direção: Cosimo Gomez
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 8/10