Relacionamentos, separações, novos enlaces… As configurações familiares contemporâneas emergem com menos receios e mais aceitação, mantendo presente o velho adágio tolstoiano: famílias felizes se assemelham, enquanto as infelizes são definidas por suas tragédias singulares. “Que Mal Eu Fiz a Deus?” não chega a tal intensidade; ainda assim, Philippe de Chauveron explora os limites em busca de respostas para questões complexas, sem se atrever a concluir definitivamente.
Cronista hábil das mudanças sociais impactantes, Chauveron utiliza seu filme — o segundo de uma trilogia que expõe e critica preconceitos — para criar uma ode à tolerância, destacando quatro casais distintos, mas interligados por suas semelhanças.
Na fachada branca de uma casa imponente com seis janelões, um casal idoso se prepara para uma viagem pelo mundo, visitando a Costa do Marfim, Argélia, China e Israel, para encontrar as famílias dos genros. Claude Verneuil e sua esposa, Marie, têm quatro filhas, todas casadas com homens de diferentes origens: um afrodescendente, um muçulmano, um asiático e um judeu.
O diretor, junto com o corroteirista Guy Laurent, extrai humor dessas dinâmicas familiares, algumas piadas inofensivas, outras nem tanto. Charles Koffi, marido de Laure, é um exemplo disso, feliz por um papel menor em um seriado. Ele e Laure são os únicos que ainda não se casaram formalmente, servindo de base para as ironias de Chauveron. Não surpreendentemente, Charles é o primeiro a receber ajuda quando as filhas, lideradas por Laure, confrontam Claude e Marie sobre sua indiferença em relação às escolhas de vida delas.
Embora a discussão sobre o casamento lésbico no fim do segundo ato seja relevante e sustente parte do enredo, a parceria improvável entre Christian Clavier e Noom Diawara, e posteriormente entre Clavier e Pascal N’Zonzi como André, pai de Charles e da noiva Viviane, interpretada por Tatiana Rojo, traz mais autenticidade. O final feliz só se concretiza graças à união desses personagens conservadores, que, apesar de ultrapassados e rígidos, conseguem abrir mão de suas convicções em prol da felicidade de suas filhas.
Filme: Que Mal Eu Fiz a Deus?
Direção: Philippe de Chauveron
Ano: 2019
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10